Doutor Loyola e dona Aíde
Doutor Loyola
(Cura à distância)
Recomendações ao dr. Loyola. Todos os dias rezo por ele. Assim terminavam,
invariavelmente, as missivas que minha avó, Luíza (Lulu) Freire Tourinho, com
sua caligrafia impecável, a bico de pena, endereçava semanalmente a meu pai.
Invariáveis, também, os seus versinhos em cada carta. Eram mais ou menos
assim:
"Tenho seis filhos queridos
Jóias do meu coração
Todos são amados meus
Por nenhum tenho predileção."
Em uma de nossas viagens de férias a Salvador, vovó Lulu disse ao filho,
médico, que estava com alguma moléstia estomacal. Consultara dois
especialistas e não vinha se dando bem com os medicamentos prescritos.
Papai, que lá estando sempre lhe tomava a tensão - 12 por 8, sempre - e
temperatura, pois nada mais havia a fazer, leu as receitas dos colegas
baianos e nada encontrou de duvidoso. Parecia-lhe a medicação correta
para o que fora diagnosticado. Não me recordo se o mal de que padecia
minha amada avó provinha do estômago, esôfago, intestino grosso ou
delgado, ou mesmo do fígado ou pâncreas.
Meu pai disse então à mãe que pouco entendia daquele assunto. Pediu-lhe
exames e radiografias e assegurou-lhe que, de volta a Montes Claros,
consultaria um colega bamba em gastroenterologia. O Loyola.
E assim foi. Por dois anos, dr. Loyola foi o médico de minha avó. À distância!
Papai servia de intermediário entre os dois. Ao cabo desse tempo, eis vovó
Lulu totalmente curada do mal que a afligia. A partir daí, era Jesus Cristo no
Céu e dr. Loyola na Terra.
NOTA: Dona Luíza viria a falecer duas décadas mais tarde aos 97 anos. Causa
mortis: ruptura dos capilares, final comum em tal idade. Jamais fora operada,
nenhuma enfermidade digna de registro exceto a acima citada. Do seu
casamento com Fernando da Costa Tourinho, juiz de direito, restam dois dos
seus seis filhos, todos homens: Herdival, 92, e o caçula, Fernando, 86. Ainda
chego lá? Certamente...