Mostrando postagens com marcador FAHRENHEIT 451. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador FAHRENHEIT 451. Mostrar todas as postagens

10.9.09

FAHRENHEIT 451


CARTADA FINAL DO OBSCURANTISMO
José Maurício Guimarães
Qual seria o próximo passo do obscurantismo? Queimar livros para apagar de vez a memória dos próprios homens. O filme de François Truffaut, baseado no romance homônimo de Ray Bradbury - "Fahrenheit 451" - dá a visão terrível dessa brutalidade. Fahrenheit 451 (ou 232.7 graus Celsius) é a temperatura exata para se queimarem livros (dizem os entendidos). É a temperatura exata que o obscurantismo usa para tentar destruir idéias. Felizmente não conseguem: a inteligência é imune ao fogo, pois é dom de Deus. Conta-nos a Bíblia (Livro de Daniel) que Nabucodonosor condenou Sidrac, Misac e Abdênago, à morte numa fornalha ardente; no momento em que eram precipitados na fornalha, os três jovens passeavam dentro das chamas louvando a Deus, imunes a tudo, pois fé e sabedoria são dons de Deus. A história de VITORINO, CARPÓFARO, SEVERIANO e SEVERO - os “Quatuor Coronati” é bastante conhecida. Eram eles Mestres em lavrar e aplainar a pedra bruta, hábeis artífices no ofício de escultores. Os quatro haviam se convertido à fé cristã. Tendo Diocleciano I ordenado que esculpissem uma estátua ao deus Esculápio, eles o negaram. Então, foram condenados e açoitados. Desfalecidos, foram encerrados em barris com ferros pontiagudos e lançados num rio. A trajetória da humanidade é marcada por rastros de sangue e pela conquista de territórios. Os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade são encarados como utopias e tudo o que se constrói visando o progresso é sistematicamente atacado pela força. Dizem que "o bom cabrito não berra". Berra sim! É preciso ter coragem e dignidade para dizer um sadio "NÃO".
Em 1559, no Concílio de Trento, foi criado o "Index Librorvm Prohibithorvm" (Lista dos Livros Proibidos) com o objetivo de reagir ao avanço do protestantismo. O "index" foi atualizado durante muitos anos até a trigésima-segunda edição, em 1948. Nele constam como interditas as obras de Galileu Galilei, Copérnico, Maquiavel, Erasmo de Roterdam, Baruch Espinosa, John Locke, Berkeley, Denis Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, Montesquieu, David Hume e mesmo Immanuel Kant. Felizmente o Papa Paulo VI aboliu o índice em 15 de junho de 1966.
Apesar disso, em muitas ocasiões certos livros e pensadores permaneceram proscritos. O establishment decide o que pode ou deve ser lido; decide sobre o noticiário e sobre o consumo. Literatura ou filosofias contrárias aos donos do poder constituem crime de lesa-majestade. Em 1861, Maurice Lachâtre, editor francês, escreveu a Allan Kardec solicitando uma remessa de livros espíritas que desejava comercializar em sua livraria na Espanha. Kardec enviou dois caixotes, contendo trezentos livros. A remessa atendia a todos os requisitos legais da alfândega. Mas, sua liberação foi sustada até que fosse aprovada pelo Bispo de Sevilha, Antônio Palauy Termens. Desta absurda intervenção do poder eclesiástico no governo laico, resultou a alegação de que "... os livros de Karcec, são franceses e contrários à fé católica; o governo espanhol não pode consentir que eles pervertam a moral e a religião de outros países". Em seguida, foi ordenado o “auto-de-fé” na esplanada de Barcelona, no dia 9 de outubro de 1861 às 10h30 da manhã: trezentos livros foram carbonizados na temperatura exata de 451 graus Fahrenheit.
BÜCHERVERBRENNUNG significa literalmente, em alemão, QUEIMA DE LIVROS. No dia 10 de maio de 1933, na Opernplatz, no centro da Humboldt Universität, bem em frente à faculdade de Direito, aconteceu uma "Bücherverbrennung" quando o establishment queimou mais de 20 mil livros considerados anti-germânicos. Hoje, o local é conhecido como Bebelplatz. Ali, ergueu-se um memorial relacionado ao repugnante “auto-de-fé”. Os autores desses "perigosos livros" tinham uma visão avançada e libertadora: Albert Einstein, Erich Kästner, Erich Maria Remarque, os clássicos Goethe e Schiller, o filósofo Hegel, Heinrich Heine, Ricarda Huch, Stefan Zweig, Thomas Mann, Sigmund Freud entre outros. Em toda a Alemanha, principalmente nas cidades universitárias, montanhas de livros ou suas cinzas se acumulavam nas praças. Diante de tais cenas, o criador da psicanálise comentou com um amigo: “Que progressos estamos fazendo! Na Idade Média, teriam queimado a mim; hoje eles se contentam em queimar meus livros”.
E Bertolt Brecht acrescentou com seu poema:
“Quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
os livros que continham saber pernicioso,
e em toda a parte fizeram bois arrastarem carros de livros
para as pilhas em fogo,
Um poeta perseguido, um dos melhores,
estudando a lista dos livros queimados
descobriu, horrorizado, que os seus haviam sido esquecidos.
A cólera o fez correr célere até sua mesa,
e escrever uma carta aos donos do poder.
Queimem-me! Escreveu com pena veloz. Queimem-me!
Não me façam uma coisa dessas! Não me deixem de lado!
Eu relatei sempre a verdade em meus livros
e agora me tratam como mentiroso!
Eu lhes ordeno: Queimem-me!”
FINALMENTE, para encerrar essa série sobre FOGO e descontrair os ânimos, vamos falar de ÁGUA.
"Um louco caiu na piscina e começou a se afogar. Outro interno se atirou, salvando-o da morte. No dia seguinte, o diretor foi ao quarto do “louco salva-vidas” e disse:
- Parabéns! Vim para lhe dar duas notícias. A primeira: você está de alta! Seu gesto heróico de salvar outro interno fez nossa equipe concluir que você está curado. A segunda notícia, entretanto, não é boa: o interno que você salvou ontem suicidou hoje... morreu enforcado num cinto...
O “doido salva-vidas” respondeu admirado: - Não, senhor diretor, ele não suicidou! Fui eu que o pendurei pra secar."
MORAL DA HISTÓRIA: MUITO CUIDADO COM OS QUE QUEREM NOS QUEIMAR, NOS SALVAR OU COLOCAR-NOS PARA SECAR.

Visite meu blog >
http://zmauricio.blogspot.com/
e site > http://sites.google.com/site/jmauriciciog/Home
.