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12.9.07

LET'S TWIST AGAIN

TWIST...
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Sobre o twist as opiniões divergem. Nem todos admiravam a dança. Acima, leia o que pensava nosso poeta Geraldo Freire sobre a nova mania... (a crônica foi abruptamente interrompida, creio que por falha da tipografia). Bem, comparando as duas, sou mais Virgínia e vc?... rsrsrsrs Fonte: revista Montes Claros em Foco, 1964

Virginia de Paula, antiga e querida amiga

LET'S TWIST AGAIN

"Let's twist again, like we did last summer".
Aceitei um convite de Wagner Gomes de puxar pela memória ao ver um precioso vídeo de Chubby Checker, que dele recebi. Facílimo. Voltei na hora até 1962, embora tenha permanecido aqui na Chacrinha. Festa denominada "Férias, Twist, e Chá, Chá, Chá,", promovida por um dos nossos inúmeros clubes volantes.
Foi no mês de Julho, e eu havia acabado de completar 14 anos. Portanto, ainda não podia participar ativamente da festa. Não sei quantos se lembram, mas naqueles tempos, pelo menos em minha família, era preciso debutar primeiro, ou completar os 15 anos, para poder dançar. Lá estava eu, meio fora de moda, com um vestido branco de bolinhas vermelhas, muito rodado, herdado de minha irmã. Todas as moças ali, já estavam de tubinho, de vestidos saco, de saias evasé, tudo com pouca roda, e eu ainda com figurino anos 50. Se bem que, naquele ano, apareceu um tal de vestido balão, que levava muito pano, mas não "pegou". O meu vestido era de alças e tinha um "bolero", isto é, uma mini blusinha que vestíamos por cima do vestido. Roupa para ouvir Cely Campelo e seu "Estúpido Cupido". Logo no ano em que o Twist invadiu Montes Claros. Pela letra, vemos que já estava nas paradas desde o ano anterior (vamos dançar o twist novamente, como fizemos no verão passado...) mas era a última novidade em Moc.

Eu via tudo mantendo uma certa distância, mas sem perder nada do que acontecia a minha volta. Certa hora, uma surpresa. Eis que entra sala adentro, logo o Fuiu! Lembram-se dele? Nome verdadeiro: Murilo Borba. Era filho de Seu Itajair. Já morava em Belo Horizonte em 1962, mas estava na cidade passando férias, e arrasando os corações das meninas. Fiquei pensando: "Será que se lembra de mim?"
É que, por ocasião da construção do Pentáurea, sua família ia para lá todos os domingos e a minha também. Seu Itajair, foi um dos primeiros sócios, mas se mudou daqui antes da inauguração. Eu era encantada com toda a família Borba. Moravam na avenida Afonso Pena, perto do "Beco do Padre Marcos", lembram-se? A casa ainda está lá! Por esse tempo, juntos no Pentaúrea, pensei que talvez ele se lembrasse de mim, embora tenha saído daqui ainda criança. Ledo engano. Ele veio sim, na minha direção. Eu já estava com o coração saindo pela boca. Ele era todo sorrisos, não para mim, e sim para Emiliana, nossa cozinheira, bem ao meu lado. Então, eu soube que Emiliana tinha trabalhado na casa dele antes! "Estou hospedado na casa de Tak Maia, pregado lá em casa." Foi bem assim que falou, nunca me esqueci. "Pregado lá em casa". Podia conversar estranho, mas, aos meus olhos, era o próprio galã, vestido como Troy Donahue, aquele do "Candelabro Italiano".Jeans e sweater vermelho vivo. Cabelos louros, já um pouquinho maior do que o usual. O maior atrevimento que um jovem podia ter na época. Superado pouco depois pelo uso dos mocassins sem meias. Assim que ele saiu,eu também saí andando pela sala, esperando ansiosamente pela hora do concurso.
Sim, houve um concurso de twist! Aconteceu depois das dez horas, quando todos que tinham de chegar, já tinham chegado. A casa estava superlotada. Subi numa escada no quintal, para ver tudo, sem ninguém na minha frente. Achei maravilhoso, coisa de cinema. A música tocada foi exatamente "Let's Twist Again".
Ainda me lembro do casal vencedor. Acho que o nome da menina era Odete Queiróz, lá de Coração de Jesus. Usava uma saia evasé com suspensórios feitos com o mesmo tecido da saia. Era a última moda. O penteado era um tal de "Toquinha Holandesa", também o mais quente da temporada. Puro laquê, claro. Os Beatles ainda não tinham chegado para libertar os nossos cabelos, finalmente. O mocinho campeão, que fez par com Odete, foi exatamente Murilo Borba. Claro que eu torcia por ele.
Houve muitos aplausos, e Lazinho Pimenta, entregou o prêmio, que não me lembro mais o que foi, pedindo aplausos para o casal, que teve de dançar novamente, para o deleite de todos. Acabada a função, todos voltam a dançar ao som de boleros e músicas de Ray Connif, paradinhos, rostinhos colados. Para mim, ficou sem graça. O melhor já tinha acabado.

O Twist em Montes Claros foi sempre assim. O baile era interrompido de repente, para que alguns aventureiros e corajosos, fossem se retorcer na pista, sob os olhares de todos. Não era algo natural, com todos dançando por puro divertimento. Era preciso dançar, pelo menos razoavelmente bem, porque se tratava de um 'show'! Isso era coisa para as meninas Beatriz de Paula e Elizabeth Brauer Pinto, totamente à vontade nas pistas, fazendo o maior, e merecido sucesso.
Eu? Até que "twistava legal", mas me sentia inibida, limitando-me a dançar em festinhas de amigos.
Sem aplausos, com muita alegria.


Reflexões Sobre Minha Vida nos anos sessenta
Virgínia de Paula

Recebo pela internet, a música "Reflections of My Life", velho sucesso do Marmelade, com uma carinhosa dedicatória a mim e a meu amigo Haroldo Tourinho. Um vídeo que me leva até a International House, Shaftesbury Avenue, Londres. Foi lá que fiz um curso de inglês, e eles tinham "vitrolas mágicas". Uma moeda e vem a música escolhida. Essa música era uma das favoritas. Eu a ouvia sentindo o que a letra dizia. "O mundo é um lugar terrível para se viver, mas eu não quero morrer." E o que eu queria? Ora, salvar o mundo! Essa era a meta de muitos jovens de minha geração: A geração anos sessenta sonhava com isso. Grande parte de nós, apenas sonhava... nada fazia. Outros faziam, e metiam os pés pelas mãos. E, é claro, houve aqueles que realmente fizeram, que protestaram, "caminhando e cantando e seguindo a canção".
1970. Londres. Ando sozinha pelas ruas, como na música de Caetano.Marco um ponto no mapa e sigo até Hyde Park. Ou até Savile Row, para visitar a Apple Records. Uma vez , vejo a porta aberta. Entro, sento numa das poltronas, fico conhecendo o cast da peça Hair. Os Beatles? Ausentes. Paul, em sua fazenda na Escócia. Mesmo assim, faço várias visitas até sua residência em Saint John's Wood, onde recolho folhas da árvore do seu jardim. De lá, sigo para Abbey Road, exatamente para os estúdios da EMI. Lá dentro, George Harrison, grava " My Sweet Lord", trazendo a novidade da procura da espiritualidade para jovens, até então,céticos.De outra feita, passa por mim,Roger Waters, do Pink Floyd, que também grava no mesmo estúdio. E lá vou eu de volta para a estação de metrô, "atravessando as ruas sem medo, enquanto meus olhos procuram por discos voadores no céu". Caetano morava lá, exilado. Sigo pensando: como puderam fazer isso com ele e Gilberto Gil? Na International House, estudava uma garota da Bahia,Almodiz, que tinha o endereço deles. O plano era visitá-los. Mas,tiraram férias exatamente naquele mês de julho. Teria eu ido a Londres na data errada? Parecia que todos estavam em férias. E olha que Caetano estudava na mesma escola que eu. Teríamos sido colegas, tivesse eu ido em outro mês. Desencontros.E encontros. The Moody Blues, numa mesa junto à minha na Revolution.Stevie Wonder, cantando no restaurante onde eu jantava. E o memorável encontro com Miguel Carlos, ou melhor, Michael Ould, apresentador do programa Iê,Iê,Iê, na BBC,ouvido pelos fãs da música pop inglesa, em Montes Claros. Miguel era amado por todos nós e já saí daqui pensando em procurar por ele. Sem saber que seria tão fácil,e que ele era como um amigo de velha data. A seu lado, no clube da BBC, passo meu vigésimo segundo aniversário.Raros momentos ao lado de pessoas. Virgínia em Londres, anda quase sempre, só. Olhando tudo, procurando alguma coisa, não sabendo bem o quê. Pego um ônibus,faço um passeio no segundo andar, ouço as badaladas do Big Ben, desço em Sharing Cross, vou até ao Tâmisa, ando ao longo do rio, sigo pelas perfumadas ruas londrinas. Ruas musicais.Sempre música, muita música, vindas nem sei de onde... "In the Summertime", "Yellow River", "Let it Be". E os mantras indianos cantados pelos monges, vestidos de amarelo e tranças nos cabelos. Sons da Londres do verão de 70. É, Haroldo, nossa década de sessenta estava no fim, a guerra do Vietnam continuava, os hippies estavam se destruindo, ou mudando de vida. Porém, as mulheres se liberavam, os homens usavam cabelos longos e a lei, que considerava os gays como criminosos, na terra da Rainha, tinha sido abolida. Sim, nossa geração revolucionou. Esperando pela Era de Aquarius. A peça "Hair" em cartaz levou- me ao teatro duas vezes, para uma imersão na cultura underground, cantando junto "When the moon is in the seventh House... então a paz guiará nosso planeta e o amor triunfará..." No entanto, os Beatles se separam. Choque. Entro numa loja, compro o primeiro disco solo de Paul McCartney, com uma explicação sobre a mais sentida separação do mundo musical.Meses depois, John declara que o sonho acabou. Mas, naquele verão de 70, a montes-clarense Virgínia, a baiana Almodiz, a carioca Walkyria, o francês Claude, e o inglês Colin ainda sonham, naquela salinha da escola internacional, dançando e cantando ao som do Marmelade. Acreditando:"I am changing, arranging, everything..."
Obs. As folhas do jardim de P. McCartney vieram comigo e continuam lindas, como prova de que aquele tempo não foi apenas sonho...