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12.5.08

UNIÃO GASTA BILHÕES COM ALCOOLISMO

Alcoolismo leva União a gastar R$ 33,3 bilhões
Karla Correia
Jornal do Brasil
12.05.2008
Alheios à batalha travada no Congresso entre o Ministério da Saúde e a indústria de bebidas alcóolicas sobre a lei seca nas estradas e a limitação da propaganda de bebidas, os 11 homens reunidos no grupo de psicoterapia voltado para pacientes do Programa de Apoio ao Alcoolismo do Hospital Universitário de Brasília (HUB) contam histórias semelhantes sobre o consumo compulsivo de bebidas alcoólicas. Pedro, 45 anos, (os nomes são fictícios) começou a beber regularmente aos 13 anos e aos 16 já não conseguia largar o hábito. Buscou tratamento depois que, bêbado, estourou o tímpano do filho de três anos com um tapa. Cristiano bebe desde os 12. Tenta parar há um ano, mas volta e meia se depara com uma recaída. Antônio também começou jovem, aos 13 anos, em festinhas no interior de Minas Gerais. Mas só passou a se comportar como viciado 20 anos depois, já casado, com filhos e morando em Brasília.
– Primeiro a bebida vinha junto com os amigos, era para fazer festa, mas depois ela servia para esquecer as contas para pagar, os problemas de casa, as aporrinhações do trabalho – contou Antônio em sua última sessão de psicoterapia.
Sete meses depois de chegar ao centro de tratamento de alcoolismo da Universidade de Brasília (UnB), considerou-se curado. É, no grupo, a exceção.
– A regra é o paciente tentar várias vezes até engatar no tratamento, que inclui remédios, atendimento psicológico e clínico – explica a psicóloga Isabel Cristina Reis, coordenadora do programa que segue o padrão do atendimento a pacientes de alcoolismo do Sistema Único de Saúde (SUS). Somados os gastos com o atendimento direto no tratamento de alcoolismo, a estrutura representou despesa de R$ 36,8 milhões aos cofres da União entre 2002 e 2006, de acordo com o Ministério da Saúde.
– E nem de longe isso representa o custo total do alcoolismo para o País – observa a especialista.
Segundo ela, faltam dados sobre o tratamento de doenças ligadas ao alcoolismo, em casos que chegam às áreas de cardiologia, neurologia e até dermatologia nos hospitais públicos. Uma estatística da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), dá uma idéia do impacto financeiro de acidentes rodoviários ligados ao consumo de álcool. O custo anual desses acidentes para os cofres públicos é da ordem de R$ 28 bilhões. Outros R$ 5,3 bilhões anuais são gastos na assistência às vítimas, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Metade dos envolvidos nessas ocorrências abusou do álcool.
– Até por falta de treinamento dos profissionais de saúde, de forma geral, são escassos os registros que relacionem essas doenças às ocorrências de alcoolismo. Assim como não existem estruturas capazes de detectar o problema em sua origem e ter uma atitude proativa do sistema público de saúde na prevenção à dependência do álcool. Ninguém registra o adolescente que exagerou na bebida durante a balada ou comunica o caso à família.
Também não há quem relacione os casos em que o jovem retorna ao Pronto Socorro com o mesmo quadro regularmente.
Dependência aumenta entre os jovens
Jornal do Brasil
12.05.2008
E são os adolescentes hoje o principal foco de preocupação dos especialistas em alcoolismo do País. A exemplo do que mostram os depoimentos do início da matéria, levantamento recente da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) mostra que 12,3% dos brasileiros têm características de dependência de álcool. E 13% dos adolescentes de capitais e regiões metropolitanas são considerados bebedores "pesados", com consumo superior a cinco doses por vez, mais de uma vez por semana, o que representa risco alto de dependência. A cerveja aparece como a bebida mais consumida por esses adolescentes: 53% dos meninos e 50% das meninas até 18 anos preferem a cerveja. Para a especialista da UnB, a psicóloga Josenir de Oliveira, a influência da propaganda é decisiva na formação do hábito da bebida em adolescentes.
– Nesse caso, não é a relação de indução do consumo que se desenha entre a propaganda e o uso de bebidas por adolescentes - pondera Josenir.
O problema, analisa, está na banalização do consumo de bebida.
– A propaganda, as "loiras da cerveja", isso tudo ajuda as famílias a verem com certa condescendência o uso do álcool entre seus filhos. Subitamente, um adolescente bebendo é algo normal. E um adolescente abusando da bebida passa a ser "farra", algo característico da idade. A ausência de um sentido de alerta entre pais e mães diante de filhos que abusam do álcool é um dos principais fatores do crescimento de alcoolismo entre adolescentes. E a propaganda tem seu papel nessa relação. (K. C.)