JOÃO CARLOS SOBREIRA
Artigo publicado em > http://www.montesclaros.com/
Na tarde do dia 19 de setembro de 1970, eu estava na Santa Casa acompanhando Baby, que acabara de dar à luz a Isabela, quando fui surpreendido com a inesperada visita de uma comitiva dos amigos do MDB. Até achei que era uma cortesia pelo nascimento de nossa primogênita. A surpresa foi maior ainda, quando Genival comunicou que vinham da convenção do partido, cujos presentes, com a totalidade de votos, havia escolhido meu nome para candidato a prefeito pelo MDB, sendo meu vice Dr. Aroldo Tourinho. Refeito do susto inicial, pedi um prazo para responder, pois era imprescindível para mim, o total apoio e aquiescência de Baby e particularmente, eu tinha algumas exigências e sugestões a fazer. Marcamos, então, uma reunião para daí a quatro dias; afinal era necessário que eu dialogasse com minha mulher, antes de qualquer resposta.
Na tarde do dia 19 de setembro de 1970, eu estava na Santa Casa acompanhando Baby, que acabara de dar à luz a Isabela, quando fui surpreendido com a inesperada visita de uma comitiva dos amigos do MDB. Até achei que era uma cortesia pelo nascimento de nossa primogênita. A surpresa foi maior ainda, quando Genival comunicou que vinham da convenção do partido, cujos presentes, com a totalidade de votos, havia escolhido meu nome para candidato a prefeito pelo MDB, sendo meu vice Dr. Aroldo Tourinho. Refeito do susto inicial, pedi um prazo para responder, pois era imprescindível para mim, o total apoio e aquiescência de Baby e particularmente, eu tinha algumas exigências e sugestões a fazer. Marcamos, então, uma reunião para daí a quatro dias; afinal era necessário que eu dialogasse com minha mulher, antes de qualquer resposta.
Procurei demonstrar, na reunião, que não poderíamos deixar passar a oportunidade de provar, aos velhos políticos, que seria possível fazer uma campanha política, gastando pouco dinheiro e sem a necessidade de atingir verbalmente os adversários, na intenção de obter votos. Assim, mostrando sermos pessoas altamente democráticas e com um comportamento ético irrepreensível, alcançaríamos nosso objetivo, sem a necessidade de “xingar a mãe de ninguém!”. Gostaríamos também, de fazer algo diferente: antes de cada comício, sugeri, faríamos uma reunião, na qual determinaríamos a ordem de entrada de cada orador, assim como o assunto a ser abordado, para evitar as aborrecidas falas repetitivas. Como candidato a prefeito, seria o último a falar e faria, coerentemente, explanações sobre o plano diretor, defendido por mim na câmara. Mostraria onde haveria os benefícios, na região que estávamos realizando o comício, através de imagens apresentadas em um telão, através de um projetor de slides. Um avanço!
Conseguimos, dessa forma, realizar comícios fantásticos. Como ainda imperava a “revolução” no país, os nossos conclaves estavam sempre recheados de soldados fardados da polícia militar e sem farda da civil, sempre com máquinas fotografando todo mundo. Era o modo que as ARENAs achavam que iriam intimidar, tanto o povo que nos ouvia e dialogava conosco, quanto nós guerreiros em cima do pequeno caminhão. A nossa equipe de trabalho resolveu, por pura intuição, reservar o ginásio Darcy Ribeiro e comprar o horário da Rádio Sociedade, para os três últimos dias de comícios, antecipadamente. Parece até que São Pedro torcia por nós: choveu intensamente nesses dias, até altas horas das noites.
Sabíamos que seria muito difícil ganhar porque no outro lado estavam o Dr. Pedro Santos como free lancer e Dr. Hermes de Paula, como candidato do prefeito. No dia da eleição, cheguei à Escola Normal (era o local que tinha o maior número de sessões eleitorais da cidade) e passando entre as imensas filas, recebia a saudação de um ou outro eleitor. Quando eu já estava de saída, Dr. Pedro entrou e foi ovacionado intensamente. Foi muito frustrante e naquele momento, vi claramente o tamanho da derrota que estava por vir. O resultado não foi tão ruim como imaginávamos: na cidade, Pedrão em primeiro, nós em segundo e Dr. Hermes em terceiro. A zona rural nos mandou para a lanterna. O resultado final mostrou a força eleitoral de Pedro Santos: ele obteve mais votos que a soma dos outros dois candidatos acrescida dos votos brancos.
Como de costume, fizemos a reunião de avaliação, a reunião final. Fui o último a falar. Além de agradecer nominalmente o empenho de cada um, aproveitei para fazer uma análise da campanha como um todo. Na realidade, eu esperava outra coisa no comportamento dos eleitores. Espantei-me com a quantidade de gente que, apenas por ser ocasião de eleição, se achava no direito de fazer determinadas propostas (que sempre as considerei indecorosas) para beneficiá-lo, em troca de votos, no seu suposto curral eleitoral. Depois de cumprimentar os companheiros pelo simbolismo de termos sido relevantes personagens no lançamento da semente da oposição em Montes Claros, novamente agradeci a todos. Aproveitei para revelar que, por tudo que aconteceu de decepcionante na campanha, a partir daquele momento, eu estava prometendo aos meus amigos, à minha família e a mim mesmo que aquela tinha sido a última vez que eu me candidataria a qualquer cargo eletivo. Continuaria às ordens com os companheiros, para servir em outra ocasião, mas, eu estava, naquele momento, encerrando a minha (felizmente) curta carreira política! Com a cabeça erguida, cumpri a palavra empenhada.
Conseguimos, dessa forma, realizar comícios fantásticos. Como ainda imperava a “revolução” no país, os nossos conclaves estavam sempre recheados de soldados fardados da polícia militar e sem farda da civil, sempre com máquinas fotografando todo mundo. Era o modo que as ARENAs achavam que iriam intimidar, tanto o povo que nos ouvia e dialogava conosco, quanto nós guerreiros em cima do pequeno caminhão. A nossa equipe de trabalho resolveu, por pura intuição, reservar o ginásio Darcy Ribeiro e comprar o horário da Rádio Sociedade, para os três últimos dias de comícios, antecipadamente. Parece até que São Pedro torcia por nós: choveu intensamente nesses dias, até altas horas das noites.
Sabíamos que seria muito difícil ganhar porque no outro lado estavam o Dr. Pedro Santos como free lancer e Dr. Hermes de Paula, como candidato do prefeito. No dia da eleição, cheguei à Escola Normal (era o local que tinha o maior número de sessões eleitorais da cidade) e passando entre as imensas filas, recebia a saudação de um ou outro eleitor. Quando eu já estava de saída, Dr. Pedro entrou e foi ovacionado intensamente. Foi muito frustrante e naquele momento, vi claramente o tamanho da derrota que estava por vir. O resultado não foi tão ruim como imaginávamos: na cidade, Pedrão em primeiro, nós em segundo e Dr. Hermes em terceiro. A zona rural nos mandou para a lanterna. O resultado final mostrou a força eleitoral de Pedro Santos: ele obteve mais votos que a soma dos outros dois candidatos acrescida dos votos brancos.
Como de costume, fizemos a reunião de avaliação, a reunião final. Fui o último a falar. Além de agradecer nominalmente o empenho de cada um, aproveitei para fazer uma análise da campanha como um todo. Na realidade, eu esperava outra coisa no comportamento dos eleitores. Espantei-me com a quantidade de gente que, apenas por ser ocasião de eleição, se achava no direito de fazer determinadas propostas (que sempre as considerei indecorosas) para beneficiá-lo, em troca de votos, no seu suposto curral eleitoral. Depois de cumprimentar os companheiros pelo simbolismo de termos sido relevantes personagens no lançamento da semente da oposição em Montes Claros, novamente agradeci a todos. Aproveitei para revelar que, por tudo que aconteceu de decepcionante na campanha, a partir daquele momento, eu estava prometendo aos meus amigos, à minha família e a mim mesmo que aquela tinha sido a última vez que eu me candidataria a qualquer cargo eletivo. Continuaria às ordens com os companheiros, para servir em outra ocasião, mas, eu estava, naquele momento, encerrando a minha (felizmente) curta carreira política! Com a cabeça erguida, cumpri a palavra empenhada.