Adeus ao PIB
Considerar o aumento do PIB como sinônimo de sucesso econômico é erro tão grave como privar o neto de comida para saciar a própria fome.
Texto: Eduardo Fernandez
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Há um erro básico na forma como o governo brasileiro tenta enfrentar a crise econômica: todos os esforços têm sido no sentido de fazer o PIB tornar a crescer, sem qualquer preocupação em reorientar esse crescimento. Assim agindo, demonstra desconhecer as linhas mestras que têm orientado as políticas contra a crise adotadas nos principais países.A China, por exemplo, lançou importante programa nacional para se tornar, dentro de apenas três anos, um dos líderes mundiais na produção de carros e ônibus movidos a energia elétrica. Tem investido pesado, também, na busca de formas menos poluentes de usar o carvão, inclusive em parceria com os EUA pós-Bush. Na Europa, nos EUA e no Japão, quase todas as medidas de estímulo à economia incluem fortes incentivos à criação e expansão da economia verde. No Brasil, não se veem medidas fortes nessa direção. Programas potencialmente importantes, como o Procel e o Proconve este último levou à melhoria da eficiência energética dos veículos novos durante as décadas de 1980 e 1990 estão como mortos, há anos.Mais ainda: ao implantar medidas de estímulo à economia, o governo incentivou todos os produtores de automóveis, geladeiras, fogões e até de chuveiros elétricos; não fez qualquer distinção entre aqueles cujos produtos são mais, ou menos, eficientes em energia. Sabe-se que muitos dos automóveis, geladeiras, fogões e chuveiros vendidos no mercado interno não podem ser exportados pela sua baixa eficiência energética; sabe-se também que o desperdício de energia é, cada vez mais, uma arma de destruição em massa; é também conhecido que, na eventual recuperação da economia mundial, terão melhor desempenho e ganharão mais mercado os produtos que forem ecologicamente mais eficientes. Infelizmente, o governo brasileiro parece alheio a esses fatos, cego pelo desejo de retomar o crescimento do PIB, temeroso do efeito que a recessão poderá ter sobre seus planos eleitorais.O crescimento do PIB como medida de sucesso econômico, porém, é medida que tende a ser rapidamente abandonada. As razões são simples: quando se desmata uma floresta, o PIB cresce, mas quando ela é preservada o PIB permanece estático; quando se renova um produto, o PIB cresce menos do que quando ele é descartado e trocado por outro, novo. Quando se vai ao trabalho de bicicleta, ou em um ônibus, o PIB cresce menos do que quando o deslocamento é feito em veículo V-8, numa via congestionada, pois nesta última opção gasta-se muito mais! Vendido inclusive em cursos avançados de economia como sendo a soma de todas as riquezas produzidas em um país em certo período, os cálculos do PIB não levam em conta os males gerados com a produção das tais riquezas: poluição, destruição de rios e de biodiversidade, comprometimento do patrimônio natural, exaustão de recursos naturais etc. Propagandeado como sendo meio indispensável para se gerar empregos e reduzir a pobreza, o crescimento do PIB, nas últimas décadas, nem reduziu o número de pobres nem criou empregos em número superior aos que destruiu. É necessário encarar os fatos e abandonar as ilusões.Noutras palavras, considerar o aumento do PIB como sinônimo de sucesso econômico é erro tão grave quanto privar o neto de comida para saciar a própria fome; é fechar os olhos para a inevitável degradação da saúde das novas gerações, e mesmo da geração atual.