TÚMULO DE JAMES JOYCE, ZURIQUE
EZRA POUND, VENEZA
JIM MORRISON



Após 35 anos da morte de Jim Morrison, fãs visitam túmulo em Paris
Da Ansa, Paris, 03.07.2006
Da Ansa, Paris, 03.07.2006
Hoje, há 35 anos, morria um ídolo de várias gerações, o líder do The Doors, Jim Morrison, que na época tinha 27 anos. Ícone do rock, compôs obras antológicas como "The End", "Light My Fire", "Riders On The Storm". O seu túmulo, em uma esquina do cemitério parisiense, atrai diariamente centenas de visitantes de todas as idades e de todos os países. Há um clima dos anos 60 e 70 no cemitério parisiense Père-Lachaise. Nas alamedas que vão em direção ao túmulo de Morrison, aspirantes a hippies de todas as idades se cruzam, levando flores, fotografias, cartas, pequenos presentes. Ao redor da lápide há muita gente vestindo camisetas com a foto do ídolo. O cemitério dispôs um vigia só para o túmulo de Jim. "Normalmente, 300 pessoas o visitam diariamente, mas hoje aguardamos muitas mais", diz o responsável pela segurança.Os guardas explicam que até as tumbas próximas à do líder do The Doors estão grafitadas, riscadas, desenhadas ou trazem alguns versos poéticos. Na própria lápide, além de rosas e cartas, os peregrinos também deixam outros objetos. Sandrine Torelli, presidente da Associação "Lezard King" responsável pela proteção ao monumento fúnebre, contou que muitas visitantes deixam os próprios sutiãs e calcinhas. Diversos seguidores do amor livre também consumam suas relações sexuais sobre a lápide de pedra. "Pela manhã encontramos preservativos usados", comenta Sandrine Torelli. Jim Morrison faria 63 anos em 8 de dezembro e alguns ainda alimentam uma lenda metropolitana, que sugere que ele está vivo pelas ruas da capital francesa e que a sua morte em um hotel parisiense (cujas circunstâncias nunca foram completamente esclarecidas) foi uma farsa.
Cemitério de Paris quer expulsar Jim Morrison
Aministrador do cemitério de Père-Lachaise, em Paris, Christian Charlet, pretende que o túmulo do líder dos The Doors, Jim Morrison, saia do cemitério.
Charlet disse estar farto dos numerosos fãs de Morrison que se deslocam ao recinto e deixam o local cheio de beatas, pontas de charuto e garrafas vazias.
O túmulo de Jim Morrison implica a presença de um guarda em permanência para assegurar que os fãs do mítico vocalista se comportem, acrescentou Charlet.
Charlet disse estar farto dos numerosos fãs de Morrison que se deslocam ao recinto e deixam o local cheio de beatas, pontas de charuto e garrafas vazias.
O túmulo de Jim Morrison implica a presença de um guarda em permanência para assegurar que os fãs do mítico vocalista se comportem, acrescentou Charlet.
OSCAR WILDE




Um encontro marcado com os que já embarcaram para o outro lado. Sinistro? Sim, mas também muito chique, desde que o cemitério seja em Paris. Não precisa ser gótico ou fã de histórias de terror para passear no Père-Lachaise. O cemitério dos ricos e famosos em Paris atrai quase 2 milhões de turistas por ano. É gente que procura por Oscar Wilde, Yves Montand, Simone Signoret, Alan Kardec, Chopin, Balzac e, óbvio, Jim Morrison...
O túmulo do roqueiro norte-americano Jim Morrison, mesmo tendo morrido no séc. XX e com suspeita de overdose, é o campeão de visitas, principalmente dos mais jovens. Apesar da adoração ao líder da banda The Doors, ao longo dos anos seu túmulo foi pixado e quebrado. Só faltou mesmo quererem carregar uma tíbia do famoso. Para evitar esses e outros acessos de fanatismo, a administração do Père-Lachaise decidiu fincar um guarda ao lado do morto. O Père-Lachaise não é um cemitério de almas tão comuns. São quase 70 mil catacumbas — algumas parecem locações de filmes de terror — e mais de uma centena de restos mortais famosos: Sarah Bernhardt, Edith Piaf, Oscar Wilde, Heloisa e Abelardo, Marcel Proust, Molière, Chopin...
O Père-Lachaise não é o maior, mas é o mais famoso e visitado cemitério de Paris e um dos mais bonitos e simpáticos da Europa. São 44 hectares, cerca de 100 mil mortos e quase 70 mil esculturas e monumentos. Construído em 1803, durante o chamado Reino do Terror, por ordem de Napoleão, naquela época a cidade vivia a onda das execuções, principalmente na guilhotina. Um cemitério era uma obra urgente. O imperador ordenou a compra de um terreno do confessor de Luís XIV, o Père (padre) Lachaise, no bairro Belleville. Com fama de cemitério de indigentes, o lugar não chamava muita atenção e era difícil vender túmulos por ali. Hoje, abriga quase 70000 esculturas e mais de uma centena de artistas, pensadores, poetas, cantores e cientistas que, a seu modo, revolucionaram uma parte da história mundial. O vínculo com os famosos começou quando o escritor Honoré de Balzac passou a escrever histórias onde os personagens mortos eram enterrados por lá. Como a vida imita a arte, o Père-Lachaise também é a última morada de Balzac. Seu túmulo é um dos mais visitados. Em 1817, os restos mortais de Molière, grande ator e dramaturgo do séc. XVII, foram levados para o Père-Lachaise. A administração queria deixar o local com fama de sofisticado e histórico. Mas, como morar perto de um cemitério não é uma meta de vida comum, os imóveis das regiões próximas foram abandonados e desvalorizados. Os aluguéis baratos chamaram a atenção de pintores, escritores, cantores, poetas. Daí uma das explicações para tantos artistas enterrados num só cemitério: como a maioria morava ali por perto em vida... Enfim, o Père-Lachaise é um dos poucos cemitérios onde a morte não tem cara de tristeza e é celebrada com muitas flores coloridas, presentes e música. (Fonte: Dalila Goes)
Saiba mais> http://www.perelachaise.net/ ( em francês) e www.templeofazrael.org/images ( em inglês - Tradução instantânea? > http://www.babelfish.com/ )
Deraldo, meu primo.irmão, acaba de chegar da Europa com a família e me enviou umas fotos. Dentre elas, a do túmulo de Baudelaire no cemitério de Montmartre, Paris. Fiquei intrigado, mas sabedor de sua admiração pelo poeta louco (e qual deles não o é?), entendi o recado e devolvo a gentileza com a tradução livre de um dos seus poemas, L'ennemi, um dos tantos do livro Les fleurs du mal (As flores do mal).
Fui mais longe. Lembrei-me de minhas mórbidas visitas a cemitérios, de como me emocionei ao ver o túmulo de Marx repleto de flores (Highgate, Londres), dos incontáveis mausoléus de famosos em Montparnasse, Paris, e resolvi chupetar alguns textos sobre o turismo nesses locais. Pesquisei no Google e se não cito as fontes é porque me deram algum trabalho para serem reescritas, pois as traduções de ambos os textos abaixo estão muito mal feitas pelo site.
Lembrei-me agora de Balzac, que, para inspirar-se, ou melhor, para encontrar nomes para os cerca dos 4.700 personagens da sua Comédia Humana (70 ou 90 volumes), percorria os cemitérios de Paris em suas pesquisas. Olhava uma lápide, cruzava o nome lá inscrito com o sobrenome de outra lápide... e por aí foi... Oh, Honoré, que pena não haver listas telefônicas no seu tempo...

CEMITÉRIOS DE PARIS
Não tem pra ninguém: Paris é, indubitavelmente, a capital mundial do turismo. Que outro local no mundo teria um cemitério – o Père-Lachaise – que recebe, só ele, dois milhões de visitantes por ano? Também não é para menos: passear pelo cemitério é, literalmente, caminhar sobre um chão de estrelas, como Balzac, Chopin, Jim Morrison, Edith Piaf, Oscar Wilde, La Fontaine, Molière... a lista é imensa. Achou sinistro? Não é o que acham os milhares de turistas que, todos os dias, chegam aos montes ao local, fazendo dele uma das mais visitadas atrações parisienses (isso mesmo, o Père-Lachaise concorre com a Torre Eiffel e o Louvre. E faz bonito!).
Mas não é só o Lachaise que atrai curiosos e fãs para visitar túmulos. O cemitério de Montmartre, um dos bairros mais charmosos de Paris, também é bastante concorrido. François Truffaut, Nijinsky e Degas estão lá. O Cimetière du Montparnasse, onde está enterrado Baudelaire e Guy de Maupassant, também atrai turistas.
É possível, num só dia, realizar um circuito por esses locais repletos de belíssimos túmulos, estátuas e brasões esculpidos por nomes conhecidos em Paris, como Bartholdi, Rude, Falguière ou David d’Angers. A coisa é tão organizada que os cemitério de Montmartre e o Père-Lachaise possuem, na entrada, guias turísticos indicando onde estão os túmulos dos famosos, todos bem detalhados e fáceis de manusear.
Em sua área estão enterradas também várias personalidades de renome mundial: o casal-ícone do existencialismo, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o poeta e autor de Flores do Mal(leia poema e tradução-livre acima),Charles Baudelaire, os escritores Guy de Maupassant e Julio Cortázar, o fotógrafo Man Ray, a atriz Jean Seberg (de Acossado). O autor de uma das canções francesas mais famosas do mundo, Serge Gainsbourg, também está enterrado ali. É dele a regravadíssima Je t’aime Moi Non Plus, cantada por sua mulher, a atriz e sex-bomb Jane Birkin. Seu túmulo ainda é bastante visitado, principalmente por mulheres saudosas dos anos 60, época na qual ele esteve no auge do sucesso. Serge não era exatamente um modelo de beleza, mas conseguiu atrair para sua cama – e/ou para os estúdios – a já citada Barkin, Brigitte Bardot e Catherine Deneuve (a última, até onde se sabe, somente até o estúdio).
O Cemitério de Montparnasse possui uma característica bastante identificável: seus túmulos e jazigos possuem mais ou menos o mesmo tamanho e cores. Algumas das esculturas em seu interior são famosas, como a estátua Anjo de Sono Eterno, de H. Daillion, e O Beijo, de Brancusi (que também descansa lá).
Após a visita ao Montparnasse, vale uma parada num dos cafés charmosos localizados bem em frente ao cemitério. Esse é, aliás, um programa típico parisiense. Não tem nada de mórbido. Aliás, depois desse passeio inusitado entre lápides, você vai ter certeza de que Paris, até quando se fala em cemitério, é um show.
CEMITÉRIO BRITÂNICO VIRA PONTO TURÍSTICO PARA O SÉCULO PASSADO
Quando o boxeador Tom Sayers morreu em 1865, 100 mil pessoas se alinharam pelas ruas para assistir ao cortejo funerário em seu caminho para o cemitério Highgate,Londres. Menos de 20 anos depois, apenas 11 pessoas apareceram para o funeral de Karl Marx, no mesmo lugar.
O Père-Lachaise, em Paris, pode estar melhor agora, mas o Highgate oferece não só as sepulturas de Marx, do escritor George Eliot e da família de Charles Dickens, como também uma viagem de volta ao século 19.
O local, com 17 acres, era um dos sete cemitérios abertos na periferia de Londres entre 1833 e 1841 para suprir uma crítica falta de espaço para sepultar os mortos. A falta de terras para esse fim era tão grande que não era inusual desenterrar um corpo um mês após o funeral para que houvesse vaga para uma nova cova.
O Cemitério Highgate, estabelecido como uma companhia acionária, foi aberto em 1839, depois que o bispo de Londres consagrou 15 de seus 17 acres. Os outros dois foram abertos ao lado, como chão para serem enterrados os dissidentes da Igreja da Inglaterra.Duas capelas foram construídas - uma para os anglicanos e uma para os dissidentes - em um estilo que o guia Ian Kelly chamou de "gótico funerário". Kelly é um dos cerca de 10 guias turísticos voluntários que acompanham visitantes pelo Cemitério Oeste. O Cemitério Leste, construído 20 anos depois e local do túmulo imponente de Karl Marx, pode ser visitado de forma independente.
Em seu auge, nos idos de 1870, Highgate tinha cerca de 16 enterros por dia. Mas, com o decorrer dos anos, o espaço foi diminuindo e a viabilidade econômica do cemitério caiu.Em 1975, uma entidade de caridade, a Amigos do Cemitério Highgate, assumiu a propriedade e o gerenciamento do mesmo. O cemitério continua sendo usado para enterros e fica fechado para visitantes durante os funerais.
Por muitos anos, o Cemitério Highgate foi mantido de forma que conservasse a noção do século 19, de que os cemitérios eram lugares para um certo tipo de recreação passiva... Na virada do século, era tratado por 27 jardineiros; hoje, são apenas dois. Os Amigos do Cemitério Highgate escolheram deixar o local em um estado semi-selvagem, mais um prado viçoso do que um parque aparado. Juncos delgados e uma profusão de flores selvagens crescem sobre lápides caídas e estátuas. O efeito é noir, atmosférico, mas Jean Pateman, diretor da Amigos do Cemitério Highgate, disse que a entidade pena para levantar 200 mil libras por ano (US$ 325 mil) para lutar contra as forças da natureza.
Uma visita guiada pelo Cemitério Oeste revela um mundo além dos juncos e das flores selvagens que tornam grande parte dele inacessível para os visitantes. Ali está Elizabeth Siddal, mulher do pintor Dante Gabriel Rossetti, que foi enterrada em Highgate em 1862 aos 33 anos. Rossetti, profundamente abalado com a morte de sua bela esposa, manteve seu caixão em sua casa por seis dias, recusando-se a acreditar que ela estava morta.Finalmente, consentindo com seu enterro, ele colocou um volume de seus poemas não publicados dentro do caixão. Seis anos depois, Rossetti decidiu que queria que o mundo lesse os poemas. Então, em uma noite de 1868,uma tocha foi acesa no Cemitério Highgate e o caixão de Siddal foi levantado para que os poemas fossem retirados. Rossetti não compareceu, mas amigos que estiveram lá disseram a ele que sua esposa continuava bonita na morte e que seu longo cabelo ruivo tinha continuado a crescer, com seus cachos entrelaçando o livro de poemas...Rossetti foi sepultado em Kent, sul da Inglaterra, mas sua irmã Christina e seus pais repousam em Highgate.
Apesar do crescimento do número de túmulos ter obscurecido o plano de ordem original do cemitério, a ordem antiga pode ser vista em sua seção mais pomposa: a avenida Egípcia, que leva ao Círculo do Líbano. A avenida, flanqueada por dois obeliscos em sua entrada, está repleta de mausoléus, populares por muitos anos entre aqueles que não queriam ser enterrados sob a terra. A preferência por enterros sobre o solo refletia uma falta de confiança na profissão médica, disse Kelly. Muitas pessoas queriam ser enterradas com um sino ao lado, para que pudessem pedir ajuda no caso de não estarem realmente mortas.A avenida se abre no Círculo do Líbano, uma vala de quatro metros de profundidade que cerca um cedro de 300 anos de idade.Os túmulos pelo cemitério estão repletos de símbolos de morte do século 19, incluindo as tochas invertidas que adornam muitos dos mausoléus pela avenida Egípcia. De modo similar, o túmulo do treinador James Selby está adornado com ferraduras invertidas, mostrando que sua sorte foi embora.
Fui mais longe. Lembrei-me de minhas mórbidas visitas a cemitérios, de como me emocionei ao ver o túmulo de Marx repleto de flores (Highgate, Londres), dos incontáveis mausoléus de famosos em Montparnasse, Paris, e resolvi chupetar alguns textos sobre o turismo nesses locais. Pesquisei no Google e se não cito as fontes é porque me deram algum trabalho para serem reescritas, pois as traduções de ambos os textos abaixo estão muito mal feitas pelo site.
Lembrei-me agora de Balzac, que, para inspirar-se, ou melhor, para encontrar nomes para os cerca dos 4.700 personagens da sua Comédia Humana (70 ou 90 volumes), percorria os cemitérios de Paris em suas pesquisas. Olhava uma lápide, cruzava o nome lá inscrito com o sobrenome de outra lápide... e por aí foi... Oh, Honoré, que pena não haver listas telefônicas no seu tempo...
Derek, o blogger agradece pela contribuição e pede que lhe envie a foto da Estátua da Fé, uma das mais belas esculturas que já vi em cemitérios. Está no Campo Santo, aí em Salvador...
L'ENNEMI (Baudelaire, Charles, in Les fleurs du mal)
Ma jeunesse ne fut qu'un ténébreux orage,
Traversé çà et là par des brillants soleils;
La tonnerre et la pluie on fait un tel ravage,
Qu'il reste en mon jardim bien peu des fruits vermeils.
Voilà que j'ai touché l'autonne des idées,
Et qu'il faut employer la pelle et les vâteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l'eau creuse des trous grands comme des tombeaux.
Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol lavé comme un grève,
Le mystique aliment qui ferait le vigueur.
- O douler! O douler! Le Temps mange la vie,
Et l'obscur Ennemi qui nous ronge le coeur,
Du sang qui nos perdons croît et se fortifie
O INIMIGO (tradução livre)
Minha juventude não foi senão uma tenebrosa tempestade,
Atravessada aqui e ali por sóis brilhantes;
O trovão e a chuva fizeram tamanho estrago,
Que restam em meu jardim pouquíssimos frutos vermelhos.
Eis que toquei o outono das idéias,
E que é preciso empregar a pá e os ancinhos
Para misturar à nova as terras inundadas,
Onde a água cavou buracos grandes como túmulos.
E que dizer se as novas flores com as quais sonho
Encontrem nesse solo lavado como uma praia,
O alimento místico que as revigore?
- Oh dor! Oh dor! O Tempo come a vida,
E o obscuro Inimigo que nos rói o coração,
Do sangue que perdemos cresce e se fortifica
L'ENNEMI (Baudelaire, Charles, in Les fleurs du mal)
Ma jeunesse ne fut qu'un ténébreux orage,
Traversé çà et là par des brillants soleils;
La tonnerre et la pluie on fait un tel ravage,
Qu'il reste en mon jardim bien peu des fruits vermeils.
Voilà que j'ai touché l'autonne des idées,
Et qu'il faut employer la pelle et les vâteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l'eau creuse des trous grands comme des tombeaux.
Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol lavé comme un grève,
Le mystique aliment qui ferait le vigueur.
- O douler! O douler! Le Temps mange la vie,
Et l'obscur Ennemi qui nous ronge le coeur,
Du sang qui nos perdons croît et se fortifie
O INIMIGO (tradução livre)
Minha juventude não foi senão uma tenebrosa tempestade,
Atravessada aqui e ali por sóis brilhantes;
O trovão e a chuva fizeram tamanho estrago,
Que restam em meu jardim pouquíssimos frutos vermelhos.
Eis que toquei o outono das idéias,
E que é preciso empregar a pá e os ancinhos
Para misturar à nova as terras inundadas,
Onde a água cavou buracos grandes como túmulos.
E que dizer se as novas flores com as quais sonho
Encontrem nesse solo lavado como uma praia,
O alimento místico que as revigore?
- Oh dor! Oh dor! O Tempo come a vida,
E o obscuro Inimigo que nos rói o coração,
Do sangue que perdemos cresce e se fortifica

Não tem pra ninguém: Paris é, indubitavelmente, a capital mundial do turismo. Que outro local no mundo teria um cemitério – o Père-Lachaise – que recebe, só ele, dois milhões de visitantes por ano? Também não é para menos: passear pelo cemitério é, literalmente, caminhar sobre um chão de estrelas, como Balzac, Chopin, Jim Morrison, Edith Piaf, Oscar Wilde, La Fontaine, Molière... a lista é imensa. Achou sinistro? Não é o que acham os milhares de turistas que, todos os dias, chegam aos montes ao local, fazendo dele uma das mais visitadas atrações parisienses (isso mesmo, o Père-Lachaise concorre com a Torre Eiffel e o Louvre. E faz bonito!).
Mas não é só o Lachaise que atrai curiosos e fãs para visitar túmulos. O cemitério de Montmartre, um dos bairros mais charmosos de Paris, também é bastante concorrido. François Truffaut, Nijinsky e Degas estão lá. O Cimetière du Montparnasse, onde está enterrado Baudelaire e Guy de Maupassant, também atrai turistas.
É possível, num só dia, realizar um circuito por esses locais repletos de belíssimos túmulos, estátuas e brasões esculpidos por nomes conhecidos em Paris, como Bartholdi, Rude, Falguière ou David d’Angers. A coisa é tão organizada que os cemitério de Montmartre e o Père-Lachaise possuem, na entrada, guias turísticos indicando onde estão os túmulos dos famosos, todos bem detalhados e fáceis de manusear.
Em sua área estão enterradas também várias personalidades de renome mundial: o casal-ícone do existencialismo, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, o poeta e autor de Flores do Mal(leia poema e tradução-livre acima),Charles Baudelaire, os escritores Guy de Maupassant e Julio Cortázar, o fotógrafo Man Ray, a atriz Jean Seberg (de Acossado). O autor de uma das canções francesas mais famosas do mundo, Serge Gainsbourg, também está enterrado ali. É dele a regravadíssima Je t’aime Moi Non Plus, cantada por sua mulher, a atriz e sex-bomb Jane Birkin. Seu túmulo ainda é bastante visitado, principalmente por mulheres saudosas dos anos 60, época na qual ele esteve no auge do sucesso. Serge não era exatamente um modelo de beleza, mas conseguiu atrair para sua cama – e/ou para os estúdios – a já citada Barkin, Brigitte Bardot e Catherine Deneuve (a última, até onde se sabe, somente até o estúdio).
O Cemitério de Montparnasse possui uma característica bastante identificável: seus túmulos e jazigos possuem mais ou menos o mesmo tamanho e cores. Algumas das esculturas em seu interior são famosas, como a estátua Anjo de Sono Eterno, de H. Daillion, e O Beijo, de Brancusi (que também descansa lá).
Após a visita ao Montparnasse, vale uma parada num dos cafés charmosos localizados bem em frente ao cemitério. Esse é, aliás, um programa típico parisiense. Não tem nada de mórbido. Aliás, depois desse passeio inusitado entre lápides, você vai ter certeza de que Paris, até quando se fala em cemitério, é um show.
CEMITÉRIO BRITÂNICO VIRA PONTO TURÍSTICO PARA O SÉCULO PASSADO
Quando o boxeador Tom Sayers morreu em 1865, 100 mil pessoas se alinharam pelas ruas para assistir ao cortejo funerário em seu caminho para o cemitério Highgate,Londres. Menos de 20 anos depois, apenas 11 pessoas apareceram para o funeral de Karl Marx, no mesmo lugar.
O Père-Lachaise, em Paris, pode estar melhor agora, mas o Highgate oferece não só as sepulturas de Marx, do escritor George Eliot e da família de Charles Dickens, como também uma viagem de volta ao século 19.
O local, com 17 acres, era um dos sete cemitérios abertos na periferia de Londres entre 1833 e 1841 para suprir uma crítica falta de espaço para sepultar os mortos. A falta de terras para esse fim era tão grande que não era inusual desenterrar um corpo um mês após o funeral para que houvesse vaga para uma nova cova.
O Cemitério Highgate, estabelecido como uma companhia acionária, foi aberto em 1839, depois que o bispo de Londres consagrou 15 de seus 17 acres. Os outros dois foram abertos ao lado, como chão para serem enterrados os dissidentes da Igreja da Inglaterra.Duas capelas foram construídas - uma para os anglicanos e uma para os dissidentes - em um estilo que o guia Ian Kelly chamou de "gótico funerário". Kelly é um dos cerca de 10 guias turísticos voluntários que acompanham visitantes pelo Cemitério Oeste. O Cemitério Leste, construído 20 anos depois e local do túmulo imponente de Karl Marx, pode ser visitado de forma independente.
Em seu auge, nos idos de 1870, Highgate tinha cerca de 16 enterros por dia. Mas, com o decorrer dos anos, o espaço foi diminuindo e a viabilidade econômica do cemitério caiu.Em 1975, uma entidade de caridade, a Amigos do Cemitério Highgate, assumiu a propriedade e o gerenciamento do mesmo. O cemitério continua sendo usado para enterros e fica fechado para visitantes durante os funerais.
Por muitos anos, o Cemitério Highgate foi mantido de forma que conservasse a noção do século 19, de que os cemitérios eram lugares para um certo tipo de recreação passiva... Na virada do século, era tratado por 27 jardineiros; hoje, são apenas dois. Os Amigos do Cemitério Highgate escolheram deixar o local em um estado semi-selvagem, mais um prado viçoso do que um parque aparado. Juncos delgados e uma profusão de flores selvagens crescem sobre lápides caídas e estátuas. O efeito é noir, atmosférico, mas Jean Pateman, diretor da Amigos do Cemitério Highgate, disse que a entidade pena para levantar 200 mil libras por ano (US$ 325 mil) para lutar contra as forças da natureza.
Uma visita guiada pelo Cemitério Oeste revela um mundo além dos juncos e das flores selvagens que tornam grande parte dele inacessível para os visitantes. Ali está Elizabeth Siddal, mulher do pintor Dante Gabriel Rossetti, que foi enterrada em Highgate em 1862 aos 33 anos. Rossetti, profundamente abalado com a morte de sua bela esposa, manteve seu caixão em sua casa por seis dias, recusando-se a acreditar que ela estava morta.Finalmente, consentindo com seu enterro, ele colocou um volume de seus poemas não publicados dentro do caixão. Seis anos depois, Rossetti decidiu que queria que o mundo lesse os poemas. Então, em uma noite de 1868,uma tocha foi acesa no Cemitério Highgate e o caixão de Siddal foi levantado para que os poemas fossem retirados. Rossetti não compareceu, mas amigos que estiveram lá disseram a ele que sua esposa continuava bonita na morte e que seu longo cabelo ruivo tinha continuado a crescer, com seus cachos entrelaçando o livro de poemas...Rossetti foi sepultado em Kent, sul da Inglaterra, mas sua irmã Christina e seus pais repousam em Highgate.
Apesar do crescimento do número de túmulos ter obscurecido o plano de ordem original do cemitério, a ordem antiga pode ser vista em sua seção mais pomposa: a avenida Egípcia, que leva ao Círculo do Líbano. A avenida, flanqueada por dois obeliscos em sua entrada, está repleta de mausoléus, populares por muitos anos entre aqueles que não queriam ser enterrados sob a terra. A preferência por enterros sobre o solo refletia uma falta de confiança na profissão médica, disse Kelly. Muitas pessoas queriam ser enterradas com um sino ao lado, para que pudessem pedir ajuda no caso de não estarem realmente mortas.A avenida se abre no Círculo do Líbano, uma vala de quatro metros de profundidade que cerca um cedro de 300 anos de idade.Os túmulos pelo cemitério estão repletos de símbolos de morte do século 19, incluindo as tochas invertidas que adornam muitos dos mausoléus pela avenida Egípcia. De modo similar, o túmulo do treinador James Selby está adornado com ferraduras invertidas, mostrando que sua sorte foi embora.
Talvez o mais comovente seja o uso em alguns lugares de ampulhetas com asas, simbolizando o antigo provérbio: "O tempo voa..."

CAMPANILE, Achille
Texto extraído do livro Entre a mentira e a ironia. Umberto Eco, ed. Record, 2006
Campanile é um grande autor cômico porque é autor funéreo, e funerário, pois fala muito de cemitérios e funerais.Suas páginas voltam obsessivamente ao problema da morte, desde as obras da juventude. Campanile extrai da idéia da morte ocasiões para pequenos sorrisos. A começar por aquele seu personagem juvenil que, à pergunta “Como se vai?”, em vez de “Vai-se vivendo”, responde: Vai-se morrendo”, e depois explica lucidamente o porquê. Leiamos esta trecho de Cantilena all’angolo della strada:
Embora se saiba com certeza que todos temos que morrer... todos, mesmo assim, ficam surpresos com o fenômeno. Quem vai ao funeral de um amigo ou de um parente tem, no fundo, a idéia de que está tratando de uma coisa que não lhe diz respeito pessoalmente. Já foram visitar uma família atingida pelo luto enquanto o finado ainda se encontra em casa? Vêem-se pessoas estupefatas, como se tivesse acontecido algum fato estranhíssimo que, desde que o mundo é mundo, nunca antes se produzira. Todos se agitam, todos demonstram seu despreparo para a coisa. Sejam os parentes, sejam os amigos. Os primeiros não mostram qualquer desenvoltura. Os visitantes pronunciam frases que, mesmo vistas com benevolência, é inevitável que sejam definidas como insensatas. [...] Não podem absolutamente ver uma lágrima. “Não chore.” “Prometa que não vai chorar.”, ordenam. Mas por quê? Há algum mal em que alguém chore? Quanto aos parentes, repetem frases desprovidas de sentido comum: “Não devia morrer”; “Quem poderia imaginar?”, e outras, admissíveis somente se o fenômeno da morte estivesse se apresentando pela primeira vez no mundo.[...] Surpresa? Mas estão malucos? Mas isso é um segredo de Polichinelo! A surpresa seria lógica se em vez da notícia de que o amigo morreu, tivessem recebido – como um raio em céu sereno – a notícia de que o amigo não morrerá jamais, por toda a eternidade. Somente nesse caso as frases pronunciadas nas ocasiões da morte seriam apropriadas: “Não poderia imaginar!”; “Quem poderia pensar?”; “Ainda não posso acreditar!” [...] Somente o morto entendeu a situação e ficou com a alma em paz. Enquanto há vida, há esperança. Enquanto existia um fio de esperança, ele também se agitou, fez gestos descompostos, disse palavras insensatas. Mas, agora, não mais. Agora está tranqüilíssimo. É o único desenvolto. O único que sabe fazer a sua parte. Está morto há poucas horas e já se mostra cheio de prática dessas coisas. Lá no fundo, na sala cheia de flores, entre as velas, estendido sobre o leito, vestido com sua melhor roupa, já assumiu aquele aspecto impenetrável, aquela palidez inverossímil, aquela frieza característicos. Em suma, já tem aquilo que os franceses chamam de physique du rôle. Todos os vivos se agitam como peixes fora d’água, demonstrando que foram pegos de surpresa e revelando um despreparo deplorável. No morto, nenhuma surpresa. Dir-se-ia que não fez outra coisa na vida senão morrer. Olhem para ele, como está estendido no leito. Não se move há tempos, não dá atenção a ninguém, não olha ninguém. Não faz comentários. Mas como? Se há poucas horas parecia que jamais poderia se afastar dessas pessoas e dessas coisas que o circundam? Será possível que já tenha conseguido ficar com a alma em paz? Não se ocupa mais de ninguém. Sequer de si mesmo. Que façam o que bem quiserem, vistam-no, dispam-no, fechem-no numa caixa. Mostra-se completamente desinteressado. Se quiserem deixá-lo ali, há de ficar. Querem rezar? Rezem. Chorar? Chorem. Está ali parado e deixa tudo acontecer. Tranqüilíssimo. Mas onde terá aprendido a fazer-se de morto tão bem? E não é questão de cultura, ou de idade ou de outra coisa. Os pobres sabem fazê-lo como os ricos, o ignorante assume o mesmo aspecto que o maior dos sábios, jovens e velhos – mortos – permanecem na mesma imobilidade, com a mesma ausência. Olhem para ele, para sua desenvoltura, e aprendam. [...] Porém, que achado a morte! O maior dos romancistas, o comediógrafo mais engenhoso não saberiam imaginar uma solução tão genial.Há situações que parecem irremediáveis, emaranhados inextricáveis, embrulhos que nunca se conseguirá desfazer. Chega a morte e resolve tudo.Há aglomerados de pessoas que parece impossível diluir. E é humanamente impossível. Eis que a morte coloca tudo em seus lugares, remove as situações ou as dissolve, se são decrépitas, permite recomeçar do início, abre as portas para a vida. Certas vezes faz mal ao coração. Mas resolve o que antes parecia insolúvel. Do modo mais impensado e mais simples. De verdade, nem os maiores autores saberiam inventar algo como a morte. A qual – é preciso acrescentar – é um instrumento que só pode ser manejado por uma Sapiência Infinita. Em nossas mãos seria um desastre. Morrem também as crianças, pois têm a desenvoltura de serem pequenos homens, e também porque podem morrer antes de se tornarem homens: E eis que o carro branco, com anjinhos de madeira, avança trotando por entre a multidão citadina. Da pequenez do carro se entende que deveria ser uma criança bem pequena e é maravilhoso ver como todos tiram os chapéus à passagem dessa criança, unicamente pelo fato de que está morta. Até mesmo os oficiais levam a mão à viseira, como se saudassem um general; até os metropolitanos se colocam à espera, como se passasse o governador; e mesmo os cocheiros , que pouco se importam com os homens maduros, apressam-se a tirar os bonés, enquanto bondes e automóveis param em fila sem protestos. Mas vamos! É uma criança! E, na verdade, não tem nenhum mérito por estar morta. A bem da verdade, se quiséssemos ser rigorosos, haveria muita coisa a dizer. Mas olha só aquela criancinha: tão pequena e já morta. É admirável, naquela idade, não se pode negar; é um caso de surpreendente precocidade. Mas queremos saber como pôde essa criança, tão pequena, ser admitida na categoria dos mortos? Ser morto não é brincadeira, não! Ser morto é uma coisa muito, mas muito séria, é preciso comer muito feijão para se chegar lá. É preciso ter os cabelos brancos e muita barba e ter superado muitas provas. Mas essa criança, ao contrário, apresenta-se à porta do Céu e diz: “Sabem, eu sou um morto.” Um morto? Vamos devagar, por favor. [...] Mas essa criança já tinha idade para ser admitida entre os mortos? Tinha condições de entender a importância do passo que se preparava para dar? Tinha a presença? O peso? A estatura? A voz? Não. Não tinha nenhum dos requisitos necessários, nenhum título, nenhum precedente. Era pequeníssima. Não sabia nem mesmo falar. Sua boca ainda cheirava a leite. Certamente não estava à altura da situação. A menos que se queira considerar título suficiente ter vindo ao mundo. Não sei que estatura é preciso ter para ser morto, mas assim a olho, essa criança parecia pequena demais. Oh, mas como? A que ponto chegamos! Começamos também com as criancinhas? Nesse ponto, onde iremos parar? Portanto, muita atenção: mais uma vez, maior rigor, maior rigor!
Diante da morte, Campanile coloca em ação uma regra que os formalistas russos atribuíram à arte séria: o efeito de estranhamento. Mostrar uma coisa, para Tolstoi, segundo Sklovski um cavalo, como se víssemos pela primeira vez. Com Campanile muitas vezes vemos a morte pela primeira vez. Mas vemos a morte toda vez que vemos pela primeira vez alguma coisa, mesmo uma cama:
O fato é que se acaba sempre na cama. Na cama se começa a por nascer; meia hora depois volta-se à cama; depois retornamos a cada dia, em intervalos regulares. Se estamos cansados ou muito tristes vamos nos jogar na cama. Se estamos doentes, eis que se apresenta até um cientista, que consumiu longos anos sobre os livros, estudou os mistérios da natureza, seccionou os corpos; ele nos examina, nos interroga, pensa e acaba por dizer que devemos ficar de cama. Um belo dia nos enamoramos de uma senhorinha. Começa-se com suspiros, passeios e palavras doces, intervêm as parentelas, preparam-se vestidos, roupa branca, móveis, utensílios de cozinha; expõem-se papéis, se vai para cima e para baixo pelas escadas do município, freqüenta-se a sacristia, acerta-se com o pároco, procede-se à difícil escolha das testemunhas, fazem-se mil coisas cansativas e complicadas, fixa-se o dia, estabelece-se a lista do banquete, distribuem-se anúncios e convites, compram-se bilhetes ferroviários. E já se sabe como acaba. [...] Chegará o dia em que estaremos na cama pela última vez. Então, salvo exceções, teremos vestido a nossa melhor roupa. A casa estará cheia de amigos e vizinhos em grande azáfama; nossos familiares estrilarão, ficarão surpresos, chorarão, muitos farão gestos descompostos e todos farão coisas inúteis; não haverá ninguém que não tenha um ar preocupado e que não pareça um leão na jaula. Só nós estaremos tranqüilíssimos. Estendidos no mais importante móvel da casa, estaremos completamente alheios à confusão geral e definitivamente não partilharemos os sentimentos dos circunstantes. Não teremos pensamentos de nenhuma espécie, nem mesmo os menores; tudo para nós estará doravante resolvido; e enquanto da primeira vez em que estivemos em uma cama choramos desesperadamente, agora, que será a última, teremos sobre os lábios não decerto o melhor, mas com certeza o mais fino, ambíguo e irônico de nossos sorrisos.
Que é o sorriso com que Campanile nos enganou e consolou, por toda a sua vida.
Um amor do outro mundo
Wagner Gomes
Sempre que me assalta a dúvida se existe vida após a vida, e pelo significado simbólico, me lembro de um artigo do Professor José de Souza Martins - professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia na USP, publicado, há tempos, no "O Estado de São Paulo" e intitulado "Último Adeus", de Alfredo Oliani.
O que me chamou a atenção, além da história, foi a foto de autoria de Sérgio Castro, que ilustra a reportagem, retratando o conjunto escultórico Último Adeus, que está fincado no Cemitério de São Paulo, logo à direita de quem entra pelo portão principal, na Rua Cardeal Arco Verde. Ali, se localiza o túmulo de Antônio Cantarella, falecido próximo ao Natal de 1942, com 65 anos, e de sua esposa Maria Cantarella, dez anos mais nova, que somente veio a falecer em 1982.
De uma ternura dilacerante, a escultura de Oliani, foi descrita pelo Professor Jose de Souza Martins, como sendo uma das nossas mais finas e mais belas representações da dor da separação, pois a nega na intensidade carnal do encontro entre um homem e uma mulher. Ainda nos dizeres do professor, o motivo principal do conjunto escultórico de Oliani é uma comovente expressão de sentimento de amor na vida dos dois.
Um homem atlético, nu, reclina-se apaixonadamente sobre o corpo de uma mulher jovem e bela, para beijá-la. Ela está morta. A esposa, sobrevivente do casal, pede ao artista uma escultura que celebre abertamente o sentido profundo de sua união com o marido, reconhecendo-o ainda vivo em sua vida, depois dele morto, e ela própria morta sem a companhia dele. Não reluta na confissão de sua paixão. A relação se inverte: a viúva declara-se morta e declara o marido de seu imaginário conjugal ainda vivo e no seu pleno vigor de homem.
A extraordinária beleza do túmulo do Casal Cantarella está na eloqüente recusa da anulação do corpo e da sexualidade pela morte, e na eloqüente declaração de amor sem disfarce, de Maria por Antônio, o Antonino, o Nino. Por curiosidade, em uma visita aquele cemitério, li os dizeres ali inscritos, que traziam essas informações: "Ó Nino, meu esposo, meu guia e motivo eterno de minha saudade e de meu pranto. Tributo de Maria" e "Aqui repousa Maria Cantarella ao lado de seu inseparável e amado esposo".
O amor dos dois, segundo consta, é lendário na família. Se deixaram bens, não se sabe informar, mas asseguro-lhes, prezados leitores, que deixaram mais do que isso, pois nos legaram a lenda de sua paixão sobrepondo-se à própria morte.
Wagner Gomes
Sempre que me assalta a dúvida se existe vida após a vida, e pelo significado simbólico, me lembro de um artigo do Professor José de Souza Martins - professor titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia na USP, publicado, há tempos, no "O Estado de São Paulo" e intitulado "Último Adeus", de Alfredo Oliani.
O que me chamou a atenção, além da história, foi a foto de autoria de Sérgio Castro, que ilustra a reportagem, retratando o conjunto escultórico Último Adeus, que está fincado no Cemitério de São Paulo, logo à direita de quem entra pelo portão principal, na Rua Cardeal Arco Verde. Ali, se localiza o túmulo de Antônio Cantarella, falecido próximo ao Natal de 1942, com 65 anos, e de sua esposa Maria Cantarella, dez anos mais nova, que somente veio a falecer em 1982.
De uma ternura dilacerante, a escultura de Oliani, foi descrita pelo Professor Jose de Souza Martins, como sendo uma das nossas mais finas e mais belas representações da dor da separação, pois a nega na intensidade carnal do encontro entre um homem e uma mulher. Ainda nos dizeres do professor, o motivo principal do conjunto escultórico de Oliani é uma comovente expressão de sentimento de amor na vida dos dois.
Um homem atlético, nu, reclina-se apaixonadamente sobre o corpo de uma mulher jovem e bela, para beijá-la. Ela está morta. A esposa, sobrevivente do casal, pede ao artista uma escultura que celebre abertamente o sentido profundo de sua união com o marido, reconhecendo-o ainda vivo em sua vida, depois dele morto, e ela própria morta sem a companhia dele. Não reluta na confissão de sua paixão. A relação se inverte: a viúva declara-se morta e declara o marido de seu imaginário conjugal ainda vivo e no seu pleno vigor de homem.
A extraordinária beleza do túmulo do Casal Cantarella está na eloqüente recusa da anulação do corpo e da sexualidade pela morte, e na eloqüente declaração de amor sem disfarce, de Maria por Antônio, o Antonino, o Nino. Por curiosidade, em uma visita aquele cemitério, li os dizeres ali inscritos, que traziam essas informações: "Ó Nino, meu esposo, meu guia e motivo eterno de minha saudade e de meu pranto. Tributo de Maria" e "Aqui repousa Maria Cantarella ao lado de seu inseparável e amado esposo".
O amor dos dois, segundo consta, é lendário na família. Se deixaram bens, não se sabe informar, mas asseguro-lhes, prezados leitores, que deixaram mais do que isso, pois nos legaram a lenda de sua paixão sobrepondo-se à própria morte.
