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11.4.12

ALMA MUSICAL

Revista Viver - Edição nº 782








A carismática Antonieta Silva Silvério democratizou a música em montes claros através de sua atuação no Conservatório Lorenzo Fernandes

O abraço espontâneo de boas- vindas já sinalizava que aquela seria uma tarde agradável, mas não imaginávamos que, ao final da entrevista, seríamos premiados com uma performance musical emocionante, digna da grande concertista que é. Estamos falando de Antonieta Silva Silvério, professora, compositora, arranjadora e regente, filha de Marina Lorenzo, que criou em Montes Claros o Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, e neta de Carlos Lorenzo Fernandes, um dos maiores compositores brasileiros ao lado de Villa Lobos e Mário de Andrade.
A casa ampla, arejada, os jardins floridos, as árvores frutíferas e as muitas referências de vida espalhadas por toda parte revelam a personalidade de Antonieta, calma e pilhada, criativa, ousada, sensível e, digamos um pouco transgressora musicalmente falando. “A minha casa não é quadrada, cabe todo mundo, exala energia de liberdade e aconchego”, diz.
Na sala de visitas, são Francisco de Assis, ao lado de santo Antônio, dialoga com orixás e ícones orientais. Antonieta nasceu no dia de santo Antônio, 13 de junho, e logo avisa: “A minha religião une todos esses santos aqui. Cresci em um lar católico, sou cristã, tenho fé em um ser superior a todos nós, mas que cada um recorre à sua maneira, seja ele Buda, ou Jesus”.
O piano se destaca em meio a outros instrumentos musicais, fotos com músicos e, é claro, do avô e de sua mãe. Herança musical. Antonieta conta que tinha apenas dois anos quando se equilibrou na ponta dos pés e tocou um pedaço da música Farinhada (eu tava na peneira, eu tava no namoro, eu tava namorando). Dona Marina não entendeu nada. “Acho que aprendi ainda na barriga da minha mãe”, ironiza. Cresceu ouvindo as aulas de música que a mãe dava em casa e, aos 13 anos, já estava ensinando também. “Nunca imaginei o que seria a minha vida sem música. Ela é tão básica, tão necessária, mas discordo que ela seja tratada como algo sublime, porque isso a distancia das pessoas. É como assistir um recital, me incomoda essa linha divisória entre o popular e o erudito. Meu trabalho é juntar as duas coisas. Uma vez fiz uma audição de Mozart com sintetizador e flauta, mas respeitando o autor. Gosto de usar outros recursos sonoros”, ensina.

Como professora, Antonieta defende que existem dois tipos de música: a boa e a ruim. “Não tenho predileção por nenhum estilo musical, depende do momento, tudo tem a hora certa, mas não abro mão da qualidade musical”. Após décadas de dedicação ao Conservatório de Música Lorenzo Fernandes, Antonieta se aposentou, sem que isso signifique deixar de trabalhar. Ao contrário, coordena as 15 escolas conveniadas com o Conservatório Brasileiro de Música, que, durante 20 anos, foi dirigido por dona Marina. Sua rotina inclui idas e vindas entre Montes Claros e o Rio de Janeiro. Seu lema de vida é o de que é possível estudar música brincando e deixa uma mensagem: “defendo a obrigatoriedade do curso de música em todas as escolas da educação regular. Assim como o esporte, a música educa e fortalece o espírito de equipe, algo urgentemente necessário em nossa sociedade individualista”, diz Antonieta que já dividiu o palco com grandes nomes da música brasileira, muitos deles, amigos pessoais como Toninho Horta, Tavinho Moura e Yuri Popoff.
Ela tem outra paixão confessa, a família: João Batista, o marido; e os filhos, as gêmeas Ana e Maria, jornalista fazendo mestrado na Espanha; Ana, a coreógrafa; Jair, administrador e Pedro que estuda para ser juiz. Fora dos palcos e dos holofotes, Antonieta se confessa uma pessoa simples e pragmática. “Sou extremamente louca e desorganizada, flexível, desde que não comprometa o resultado do trabalho. Aí me torno inflexível”.
E para não dizer que não falamos de flores, amizade, cumplicidade, felicidade e afeto, Antonieta se sentou ao piano e calou a todos. Emocionados, escutamos Chico Buarque, Vinícius de Morais, Toquinho, Beatles, Flávio Venturini e muitos mais.