TRÊS GERAÇÕES: Elza e Juca Milo, Márcio e Ana Maria, Eunice, Marcinho (o maior) e Marcelo.
MÁRCIO MILO (30.06.1939 - 11.06.2010) E OUTRAS REMINISCÊNCIAS...
Publicada em O NORTE, edição de 18.06.2010
Também em 16.06.2010 > www.montesclaros.com
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Eu o chamava de MM. Duplo M... Marilyn Monroe... Esta lhe escapou. Outras Marilyns foram por ele seduzidas neste imenso norte de Minas e alhures. Finalmente, encontrou o verdadeiro amor, casou-se e aquietou-se.
Conheci MM na Radioluz, loja de eletrodomésticos que ele compartilhava com os irmãos Gera Renan e José Eustáquio, o Pindoba. Ali eu adquiria meus Lps de Elvis, Ray Charles e Sinatra. Depois vieram Beatles, Stones, Led, The Who, Pink Floyd, e meu gosto musical se ampliou. Certa ocasião, ali na loja, comprei dele um bilhete e ganhei a rifa de um relógio Mido com não sei quantos rubis...
Sempre o via na Crystal, óculos de sol, com os eternos companheiros Mimi, Agnaldo, Edvar Róró e Waldir Aguiar. Inseparáveis. Quem se dispuser a consultar as colunas sociais dos anos 60 e início dos 70 verá o quinteto citado aqui e ali. Estavam em todas. Após a happy-hour na Crystal ou em algum outro bar do centro, iam para casa, tomavam banho, se perfumavam (infelizmente o perfume então em moda era o repelente Lancaster, argentino...) e saíam para namorar. Logo mais voltavam a se encontrar na Crystal - espécie de quartel-general -, de onde partiam para algum dos cabarés que, à época, não eram poucos. Eu, meninote ainda, os invejava. Vestiam-se bem, no Camiseiro (ah, as camisas Volta ao Mundo...) ou na Renner, possuíam lambretas e vespas e namoravam as garotas mais bonitas da cidade. "Meu tempo ainda há de chegar", pensava e me conformava.
Chegou antes do que eu imaginava. Nos chamados anos dourados, meninos de 14/15 anos fumavam, bebiam, jogavam baralho, sinuca e porrinha e não poucos frequentavam o baixo meretrício. Foi por assiduidade a tais "antros de perdição", no dizer de padre Dudu, que um dos nossos ganhou o apelido que ainda hoje o acompanha: Jim Bordel. De certa feita nosso herói, o Jim (Conto ou não? Conto!), simplesmente mudou-se de mala e cuia para um dos quartos do palácio da célebre Roxa. Apaixonara-se por uma felina de seus 18 anos. Seu pai, o saudoso Ney, abordou a garota e lhe pediu, diplomaticamente, que deixasse o filho. Diante da negativa, estendeu-lhe um cheque em branco, dizendo: "Preencha-o com o valor desejado e abandone a cidade em 24 horas!" Como resposta, recebeu na cara o cheque rasgado em tiras... É mole?
Voltando a Márcio, este era o que se chamava boa praça. Amigo de todos, leal, de fino trato e dono de um humor contagiante. Às vezes enervava-se, porém, coisa passageira. Incentivou como poucos o esporte local, sobretudo o futebol de salão, fundou e dirigiu clubes sociais (quem não se lembra do volante Gardênia?). As horas-dançantes, sem ele e o quarteto que o acompanhava, perdiam a graça, segundo testemunhas de então.
Como sói acontecer, Márcio tinha um sério rival, o não menos simpático e bonito Felisberto Oliveira, um gentleman. Viviam no empate/desempate no que se refere à pegação de garotas. Em se tratando de vedetes nacionais, a exemplo de Eliana Pittman e outras de igual calibre, ponto para Felisberto (ele as contratava no Rio de Janeiro para shows do clube Montes Claros, presidido por seu pai, o grande jornalista Jair Oliveira - dono da maior parte da mídia local: Gazeta do Norte e ZYD-7, emissora de rádio). Félix - assim eu o chamava - chegou a ficar com a vetusta Virgínia Lane! Márcio Milo, por seu turno, não perdia o élan: desempatava o jogo através da conquista de alguma miss ou glamour-girl. Faturou mais de seis!
Fiquei mais próximo de Márcio quando seu irmão Ricardo e eu, colegas de classe no marista São José, nos descobrimos como fãs dos Beatles e decidimos formar um conjunto musical. Como faltavam dois componentes, iniciamos como dupla, a exemplo da inglesa Peter and Gordon. Márcio nos incentivava e conseguia que tocássemos nos intervalos do conjunto de baile Les Chèris nas horas-dançantes matinais (10 às 14h), aos domingos, da boate da Praça de Esportes. Quem era quem, no dizer de Lazinho Pimenta, ali comparecia. O cuba-libre e o hi-fi rolavam soltos às 10 da manhã! Uma coisa, Arthur! Ficávamos apenas na coca ou no crush, Ricardo e eu.
Coisa de um ano ou menos já tínhamos o conjunto montado, com o acréscimo de Lelas (João Batista Macedo) e Patão (Hélio Guedes). Beto viria depois, com a saída de Lelas. Nascia aí os Brucutus, que, juntamente a mais 35 bandas de rock (então chamadas conjuntos), viriam balançar as estruturas da velha Moc. Havia até mesmo um conjunto feminino, The Wood Face Girls (As Garotas Cara de Pau, porque rock and roll era coisa de meninos...), formado por Hilda Nascimento (bateria), Nair Maurício e Lucinha Teixeira (guitarras) e Celeste Priquitim (baixo).
Márcio logo nos conseguiu um empresário, seu dileto amigo Waldir Baiano, merecedor de um livro a seu respeito. Era o que nos faltava, pois era o mais louco de todos nós. De uma tacada adquiriu todo o equipamento necessário ao conjunto: bateria, guitarras, baixo, amplificadores de som, caixas de voz, microfones... Patão e eu acompanhamos a compra da "aparelhagem" na Mesbla, em BH. Dez prestações, pagas religiosamente. Dona Lourdes (tia de Márcio) avalizara - temerosamente - a transação...
Márcio continou incentivando a música. Logo vieram Rapha Milo (filho de Ricardo e Rita), Marcelo (filho do próprio Márcio), Leo Lopes (seu genro), Maurício Teixeira, Henrique Tourinho (Buts), Ian e Gabriel Guedes. E ele, Márcio, sempre torcendo por todos. Nos últimos anos, aposentado, dividia suas muitas histórias com a turma do Café Galo, defronte à sua velha e amada Crystal.
Ficam aqui, MM, o nosso agradecimento e a nossa eterna saudade. We'll meet again* Valeu, MM! Vlw memo, flw, te+!
*We'll meet again (Encontrar-nos-emos novamente) é uma canção interpretada pela banda folk americana The Byrds (selo CBS, 1965).
P.S.: Li esta crônica para Ricardo Milo antes de publicá-la. Ele comentou: "'É isso aí, Cabs." E acrescentou: "Quando Márcio saía de casa com aquele seu terno preto brilhante (tropical inglês), camisa imaculadamente branca e gravata vinho com o nó irretocável, sacudindo a cabeleira loura, eu pensava: alguém vai sucumbir..."P.S.2.: Aquelas fotos insinuantes, que as leitoras talvez quisessem ver publicadas, foram - compreensivelmente - censuradas por quem de direito... Rsrs. 
OS BRUCUTUS: Hélio Guedes (Patão, falecido em 03.07.2007), Ricardo Milo (Tiupas), João Batista Macedo (Lelas) e Haroldo Tourinho (Cabaret) - Foto na antiga piscina do Automóvel Clube de Montes Claros, outubro de l965, estreia oficial do conjunto.