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21.5.08

O PREÇO DE UM MINUTO

Marcos Coimbra
Correio Braziliense
21.05.2008
O PMDB é a noiva por excelência, a que todos desejam. É o partido que tem mais tempo a dar como dote. Além disso, como não possui qualquer compromisso ideológico ou político, pode ser o que cada liderança local desejar
Nestes dias que vivemos, em que os acertos finais das campanhas eleitorais estão acontecendo, as coisas se passam em dois ritmos: para a opinião pública, tudo transcorre lentamente; para os profissionais da política, os fatos se sucedem vertiginosamente.
Ao contrário das eleições para presidente e governador, em que os eleitores se mobilizam cedo e tomam suas decisões com antecedência, nas municipais as pessoas deixam suas escolhas para os momentos finais. Nos bastidores das campanhas de prefeito, porém, não temos a mesma calmaria.
Uma das coisas que mais agitam as pré-campanhas, nas capitais e cidades com geração de televisão, são as verdadeiras batalhas que se travam pela conquista de tempo no Horário Eleitoral, os trinta minutos que, dia sim, dia não, a Justiça Eleitoral concede aos candidatos. Do total, um terço é dividido igualitariamente pelo número de candidatos: se forem cinco, cada um terá dois minutos.
Os outros dois terços são divididos proporcionalmente, de acordo com o peso parlamentar dos partidos (medido pelo número de deputados federais eleitos) que integram a coligação pela qual concorre cada candidato. Se a coligação não tem nenhum, fica apenas com o tempo da divisão paritária. Se tiver muitos, ganha muito tempo, que se soma àquele.
As mais cobiçadas são, obviamente, as legendas que elegeram as maiores bancadas em 2006. Assim, candidatos e chefes de campanha se lançam à caça de alianças, cuja motivação é apenas somar tempo no Horário Eleitoral. Para obtê-lo, pouco importa qual é o partido, o que pensam suas lideranças e qual sua historia. A única coisa que interessa é ter mais uns minutinhos no Horário.
O PMDB é a noiva por excelência, a que todos desejam. É o partido que tem mais tempo a dar como dote. Além disso, como não possui qualquer compromisso ideológico ou político, pode ser o que cada liderança local desejar: aqui, coliga-se com o DEM; ali, com o PT, com a mesma cara boa. Nada exige, em termos programáticos. Ao partido, basta um naco de cargos, seja na administração de quem for. Esquerda ou direita, tanto faz.
Em São Paulo, essa luta tem reviravoltas diárias, com truques de todos os lados. Há umas semanas, todos os candidatos principais (Alckmin, Marta e Kassab) queriam o PMDB. O governador José Serra foi mais rápido e obteve o apoio de Quércia para seu candidato, o atual prefeito. Alckmin foi atrás do PTB, ao que parece o trazendo em troca da vaga de vice. Marta tenta atrair o PSB, que dá sinais de que prefere trilhar, junto com o PCdoB e o PDT, o caminho de uma candidatura própria.
Nenhuma dessas movimentações tem qualquer conteúdo político de maior mérito. Na verdade, seus artífices sequer fingem que procuram alianças ideológicas ou em torno de propostas de governo. São explicitamente pragmáticos, em nada se preocupando se o aliado de hoje foi o adversário de ontem. O que importa é mais uns minutos de televisão.