João Avelino Neto
Tarde noite triste. Como é julho. Frio, vento, poeira, céu nublado. Inverno. O sabiá, não pia, não canta. A lambú também não canta. Até a seriema emudece. É o tempo frio do Sertão. É a antesafra. É o descanso do ciclo da terra. É o fim da colheita, da quebra do milho, de se fazer farinha e rapadura,pensando no “inverno” de dezembro e no pasto do gado. Julho frio e embruscado. Como foi junho e os redemoinhos de agosto. Mas a esperança da Primavera, quando vem setembro. Tudo renasce. Não importa se eu, tu, ela, morreram. O pau d’arco floresce. O veado come as suas flores. A natureza renasce e a vida continua. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, já o disse Fernando Pessoa.Primeiro de julho de 1998. Fim da tarde. Crepúsculo que invoca tristeza no Sertão. O caixão entra no cemitério conduzido por dezenas de amigos e familiares de Tone Avelino, depois de 82 anos de vida e caminhada no Sertão. Aí soam os acordes da sanfona de Beto Viriato, quebrando o tom constrito daquela procissão, ressoando o “Mourão esquerdo da Porteira”, eterna canção dos campos e matas desse Brasil amplo, complexo e auto-suficiente em razão das suas riquezas e políticas sociais e econômicas implementadas e sustentadas neste País de transformações profundas após duas décadas de obscurantismo.Vinte e quatro de junho. Sete dias anteriores a primeiro de julho. Dez anos depois da sanfona de Beto ressoar no silencio do Bonfim, cala-se o Seresteiro na Terra e ascende-se no espaço sideral o Sertanejo, a juntar-se com uma infinidade de outros Sertanejos afiados e eruditos desta Nação Norte Mineira sob a batuta do baiano montes-clarense Godofredo Guedes.Beto e Pai no Quilombo. Nos bares e com amigos. Uma unanimidade. Gôda, João Sampaio. Quantas vezes no Quilombo e Pedrinho junto, sapateando um lundu. É só saudade.Mas, todavia, contudo, Beto está esfoliando a sua sanfona lá de cima, com ampla visão do Sertão, entoando no acústico do infinito o “Fazendeiro Rico”, junto com Antonio Avelino.

Homenagem à Beto Viriato
Estou vendo uma garrafa de Viriatinha no primeiro plano da foto. Esta semana , infelizmente, o Beto Viriato faleceu em Montes Claros. Que Deus o tenha pois já nos fez muito felizes com os toques de sanfona e com a pinga que fabricou por tanto tempo.
NENZÃO