Cledorvino Belini
Valor Econômico
10.06.2008
Está-se iniciando uma nova era para o agronegócio brasileiro. Não há dúvida de que o Brasil será uma superpotência mundial na produção de alimentos e de bionergia. O país dispõe da maior área agricultável do planeta, com uma larga extensão de terras ainda suscetíveis de exploração. As informações do governo federal são de que podem ser ocupadas, pelas lavouras, terras recentemente liberadas pela pecuária, que somam a impressionante área de 90 milhões de hectares.
As plantações brasileiras hoje se espalham por uma área de 63 milhões de hectares. Portanto, a incorporação de mais 90 milhões de hectares significaria multiplicar por duas vezes e meia a área total de lavouras, elevando-a a 150 milhões de hectares, em números redondos. Os estudos do governo mostram, portanto, que essa gigantesca expansão de área de lavouras ocorrerá sem que se entre na Amazônia ou em outros biomas importantes, utilizando-se apenas terras historicamente já exploradas economicamente.
A celeuma internacional em torno do etanol versus alimentos, fartamente noticiada pela imprensa, está provocando um efeito que pode ser extremamente salutar para o Brasil. A insensatez das declarações de muitas personalidades mundiais, atribuindo-se ao etanol de cana a responsabilidade pela elevação internacional no preço dos alimentos, acabou mexendo com a opinião pública brasileira, que reagiu indignada.
E assim os brasileiros estão se convencendo de que o país não pode perder tempo. Tem de colocar em sua agenda estratégica o objetivo de ocupar o espaço que lhe cabe no mundo, como o maior provedor global de alimentos e de bionergia. O fato econômico impõe-se à cena política. Os jornais noticiariam que o aparente tumulto das declarações em nada alterou o fluxo de investimentos estrangeiros em direção ao setor de açúcar e de álcool. A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) reiterou que o segmento sucroalcooleiro receberá, nos próximos quatro anos, investimentos de US$ 30 bilhões.
É interessante observar que a imprensa brasileira desmontou um a um os falaciosos argumentos das personalidades internacionais contra o etanol de cana, apontando-o como um dos causadores da inflação mundial dos alimentos. Ficou evidente que erraram de alvo. O álcool que retira alimento da mesa é o do milho, do trigo e da beterraba. Quanto à acusação de que a cana-de-açúcar estaria invadindo as regiões das matas tropicais, a imprensa esmiuçou nossa geografia econômica, mostrando que a expansão das lavouras ocorre em cima das pastagens do Centro-Sul, a milhares de quilômetros da floresta.
Então, o que se viu foi um maravilhoso alinhamento do discurso, envolvendo todos os setores da opinião pública brasileira. Seria supérfluo rememorar os pontos minuciosamente analisados na imprensa. Basta que se consultem os arquivos dos jornais, pela internet, para que se leia, por exemplo, que a tão propalada queima das lavouras de cana-de-açúcar vinha sendo adotada apenas como meio de se viabilizar a colheita manual. A mecanização da colheita, por intermédio de colhedoras, está conferindo mais eficiência e qualidade ambiental à colheita das lavouras, eliminando-se a prática da queimada da palha.
É inacreditável que haja pessoas que afirmem que a presença internacional do agronegócio brasileiro leva à desindustrialização
De qualquer maneira, a abundância de palavras vazias nos levou, repito, a fazer a nossa lição de casa. E, de quebra, para que enxergássemos claramente os movimentos das lavouras de cana-de-açúcar, tivemos, também, que direcionar o nosso olhar para a pecuária, a soja, os grãos em geral, nos dando conta do dinamismo e do gigantismo do agronegócio brasileiro, que já é uma potência mundial, caminhando para se tornar superpotência.
Assim, nos demos conta de que temos estupendos centros de pesquisas agropecuárias, como a Embrapa. E temos um sistema cooperativista inigualável, um conjunto de faculdades de agronomia do mais elevado nível global, como a Esalq, como Viçosa, a Escola Nacional da UFRJ e tantas outras. É inacreditável que haja, entre nós, pessoas com a capacidade de afirmar que a crescente presença internacional do agronegócio brasileiro leva à "desindustrialização", devolvendo-nos ao status colonial de exportadores de produtos primários.
Qualquer atividade agroindustrial de relevo gera uma constelação de empresas de ponta, nas áreas industriais e de serviços. Apenas para citar o Grupo Fiat e o segmento sucroalcooleiro, o arco que se estende de uma ponta a outra compreende desde as colheitadeiras da Case e New Holland e os caminhões da Iveco no transporte das safras, até o sistema de injeção multicombustíveis da Magneti Marelli, os motores flex da Fiat Powertrain Technologies e os carros flexfluel, que responderam por 99% da produção da fábrica de Betim (MG) para o mercado interno.
Em recente artigo, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, relatou que em 16 anos, no intervalo entre 1990 e 2006, a área cultivada do país evoluiu 20,5%, enquanto o número de hectares operados por tratores subiu 83,9%. Ele prossegue dizendo que "nos últimos 15/16 anos, as grandes indústrias produtoras de tratores, colheitadeiras, equipamentos e implementos cresceram no Brasil, utilizando a mais moderna tecnologia existente no mundo". E conclui: "O Brasil, a partir de 2002, tornou-se exportador de máquinas agrícolas automotrizes, invertendo um saldo comercial negativo de US$ 98,1 milhões, em 2001, para um superávit de US$ 879,5 milhões, em 2006".
A algaravia, que ecoou lá de fora, nos trouxe mais um ensinamento. É preciso combater o aquecimento global. Tanto o que vem dos combustíveis fósseis, como o que vem das frases de efeito e das discussões que só geram calor. O nosso etanol areja o ambiente, reduzindo em mais de 80% a emissão de gases de efeito estufa, em comparação com a gasolina. E isso é luz no debate. É bioluz.
Valor Econômico
10.06.2008
Está-se iniciando uma nova era para o agronegócio brasileiro. Não há dúvida de que o Brasil será uma superpotência mundial na produção de alimentos e de bionergia. O país dispõe da maior área agricultável do planeta, com uma larga extensão de terras ainda suscetíveis de exploração. As informações do governo federal são de que podem ser ocupadas, pelas lavouras, terras recentemente liberadas pela pecuária, que somam a impressionante área de 90 milhões de hectares.
As plantações brasileiras hoje se espalham por uma área de 63 milhões de hectares. Portanto, a incorporação de mais 90 milhões de hectares significaria multiplicar por duas vezes e meia a área total de lavouras, elevando-a a 150 milhões de hectares, em números redondos. Os estudos do governo mostram, portanto, que essa gigantesca expansão de área de lavouras ocorrerá sem que se entre na Amazônia ou em outros biomas importantes, utilizando-se apenas terras historicamente já exploradas economicamente.
A celeuma internacional em torno do etanol versus alimentos, fartamente noticiada pela imprensa, está provocando um efeito que pode ser extremamente salutar para o Brasil. A insensatez das declarações de muitas personalidades mundiais, atribuindo-se ao etanol de cana a responsabilidade pela elevação internacional no preço dos alimentos, acabou mexendo com a opinião pública brasileira, que reagiu indignada.
E assim os brasileiros estão se convencendo de que o país não pode perder tempo. Tem de colocar em sua agenda estratégica o objetivo de ocupar o espaço que lhe cabe no mundo, como o maior provedor global de alimentos e de bionergia. O fato econômico impõe-se à cena política. Os jornais noticiariam que o aparente tumulto das declarações em nada alterou o fluxo de investimentos estrangeiros em direção ao setor de açúcar e de álcool. A União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) reiterou que o segmento sucroalcooleiro receberá, nos próximos quatro anos, investimentos de US$ 30 bilhões.
É interessante observar que a imprensa brasileira desmontou um a um os falaciosos argumentos das personalidades internacionais contra o etanol de cana, apontando-o como um dos causadores da inflação mundial dos alimentos. Ficou evidente que erraram de alvo. O álcool que retira alimento da mesa é o do milho, do trigo e da beterraba. Quanto à acusação de que a cana-de-açúcar estaria invadindo as regiões das matas tropicais, a imprensa esmiuçou nossa geografia econômica, mostrando que a expansão das lavouras ocorre em cima das pastagens do Centro-Sul, a milhares de quilômetros da floresta.
Então, o que se viu foi um maravilhoso alinhamento do discurso, envolvendo todos os setores da opinião pública brasileira. Seria supérfluo rememorar os pontos minuciosamente analisados na imprensa. Basta que se consultem os arquivos dos jornais, pela internet, para que se leia, por exemplo, que a tão propalada queima das lavouras de cana-de-açúcar vinha sendo adotada apenas como meio de se viabilizar a colheita manual. A mecanização da colheita, por intermédio de colhedoras, está conferindo mais eficiência e qualidade ambiental à colheita das lavouras, eliminando-se a prática da queimada da palha.
É inacreditável que haja pessoas que afirmem que a presença internacional do agronegócio brasileiro leva à desindustrialização
De qualquer maneira, a abundância de palavras vazias nos levou, repito, a fazer a nossa lição de casa. E, de quebra, para que enxergássemos claramente os movimentos das lavouras de cana-de-açúcar, tivemos, também, que direcionar o nosso olhar para a pecuária, a soja, os grãos em geral, nos dando conta do dinamismo e do gigantismo do agronegócio brasileiro, que já é uma potência mundial, caminhando para se tornar superpotência.
Assim, nos demos conta de que temos estupendos centros de pesquisas agropecuárias, como a Embrapa. E temos um sistema cooperativista inigualável, um conjunto de faculdades de agronomia do mais elevado nível global, como a Esalq, como Viçosa, a Escola Nacional da UFRJ e tantas outras. É inacreditável que haja, entre nós, pessoas com a capacidade de afirmar que a crescente presença internacional do agronegócio brasileiro leva à "desindustrialização", devolvendo-nos ao status colonial de exportadores de produtos primários.
Qualquer atividade agroindustrial de relevo gera uma constelação de empresas de ponta, nas áreas industriais e de serviços. Apenas para citar o Grupo Fiat e o segmento sucroalcooleiro, o arco que se estende de uma ponta a outra compreende desde as colheitadeiras da Case e New Holland e os caminhões da Iveco no transporte das safras, até o sistema de injeção multicombustíveis da Magneti Marelli, os motores flex da Fiat Powertrain Technologies e os carros flexfluel, que responderam por 99% da produção da fábrica de Betim (MG) para o mercado interno.
Em recente artigo, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, relatou que em 16 anos, no intervalo entre 1990 e 2006, a área cultivada do país evoluiu 20,5%, enquanto o número de hectares operados por tratores subiu 83,9%. Ele prossegue dizendo que "nos últimos 15/16 anos, as grandes indústrias produtoras de tratores, colheitadeiras, equipamentos e implementos cresceram no Brasil, utilizando a mais moderna tecnologia existente no mundo". E conclui: "O Brasil, a partir de 2002, tornou-se exportador de máquinas agrícolas automotrizes, invertendo um saldo comercial negativo de US$ 98,1 milhões, em 2001, para um superávit de US$ 879,5 milhões, em 2006".
A algaravia, que ecoou lá de fora, nos trouxe mais um ensinamento. É preciso combater o aquecimento global. Tanto o que vem dos combustíveis fósseis, como o que vem das frases de efeito e das discussões que só geram calor. O nosso etanol areja o ambiente, reduzindo em mais de 80% a emissão de gases de efeito estufa, em comparação com a gasolina. E isso é luz no debate. É bioluz.