10.6.08

ATAQUE AO BIOCOMBUSTÍVEL

Marcelo Tokarski
Correio Braziliense
10.06.2008
Arduamente defendidos pelo governo brasileiro, os biocombustíveis voltaram ontem a ser atacados pelas grandes potências. Durante uma conferência em Berlim, na Alemanha, o diretor para a Agricultura da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), Stefan Tangermann, defendeu o fim dos subsídios como a única maneira de conter a escalada de preço dos alimentos. Para a entidade, que reúne 30 países desenvolvidos, as políticas de estímulo aos biocombustíveis reduzem a produção de matérias-primas agrícolas, provocando aumento de preço.
“Peço urgentemente a redução do apoio aos biocombustíveis. É o único aspecto no qual podemos atuar rapidamente”, afirmou Tangermann. Segundo o diretor, os preços agrícolas, principalmente os grãos, devem permanecer em alta por no mínimo 10 anos. De acordo com a OCDE, o desenvolvimento dos biocombustíveis é responsável por um terço da alta dos preços no campo.
Em contrapartida, a Comissão Européia defendeu as novas formas de energia. O diretor-adjunto de Agricultura da União Européia (UE), Klaus-Dieter Borchardt, disse na mesma conferência que o velho continente trabalha com uma meta “imperativa” de elevar os bio a uma participação de 10% no total de combustíveis consumidos na Europa até 2020. Para Borchardt, os biocombustíveis não podem ser transformados em “bode expiatório” da alta dos preços agrícolas. “A primeira geração de biocombustíveis é uma fase de transição necessária”, justificou.
Lula No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. No programa semanal de rádio Café com o Presidente, Lula afirmou que o país vencerá a “guerra comercial” em que se transformou a questão dos biocombustíveis. “Nós sabemos os interesses dos países que não produzem etanol, ou produzem etanol do trigo ou do milho (caso dos Estados Unidos), que não é competitivo, é mais caro, diferentemente da cana, e eu acho que isso foi um marco na participação do Brasil (na reunião da ONU sobre segurança alimentar, realizada na semana passada na Itália)”, afirmou.
O presidente disse ainda que o Brasil está tomando medidas necessárias para melhorar as condições de trabalho dos bóias-frias na colheita da cana, e rebateu as críticas feitas à produção brasileira de etanol. “Eles levantam a questão das condições de trabalho na cana-de-açúcar, e eu reconheço que é muito pesado o trabalho no corte de cana. Agora, não é mais pesado do que o dos trabalhadores que trabalham numa mina de carvão a 80, 90 metros abaixo do subsolo, que foi a base do desenvolvimento de muitos países europeus”, comparou.
Lula destacou que apenas no estado de São Paulo, 50% do corte de cana-de-açúcar já foi mecanizado e que cada máquina substitui, em média, de 80 a 90 trabalhadores. “Não queremos substituir o homem pela máquina, queremos que a máquina corte cana, mas queremos que o ser humano que hoje corta a cana tenha a possibilidade de ter um trabalho melhor, um trabalho digno.”