O Globo
02.05.2008
O ranking de escolas que vem sendo publicado, com base nos resultados da prova do Enem-2007, demanda importantes esclarecimentos, uma vez que ele se sustenta exclusivamente em aspectos quantitativos. Diante da propagação da idéia de que educação de qualidade é sinônimo de liderança em um ranking baseado no critério de homogeneidade acadêmica, os resultados do Enem suscitam preocupação e questionamentos de pais quanto à qualidade do ensino oferecido pelas escolas que não perseguem um modelo homogêneo de educação.
As escolas heterogêneas não selecionam alunos na entrada nem durante o curso, aceitando trabalhar com as mais diversas características e necessidades. Também não obriga os melhores alunos a fazerem a prova do Enem, deixando que os interesses de cada um determinem isso.
A qualidade do ensino, expressa na excelência acadêmica, não pode, no caso de uma escola heterogênea, estar baseada em uma média simples, pois nela o todo é heterogêneo, com extremos bastante desiguais, que a influenciam determinantemente. Por outro lado, é perfeitamente possível atestar a excelência acadêmica, considerando-se apenas os resultados daqueles alunos que apresentam capacidade de rendimento semelhante à dos alunos de escolas seletivas.
Com alunos que apresentam um mesmo nível de capacidade de rendimento, aí sim, é possível estabelecer comparações entre instituições e falar em qualidade de ensino. Feita dessa forma, uma comparação quantitativa entre os resultados do ensino ministrado por várias escolas heterogêneas e os do ensino ministrado pelas escolas que lideram o ranking revela uma paridade entre as instituições.
Nós, educadores, encontramos grande satisfação ao enfrentar cotidianamente o desafio de trabalhar com alunos que demandam cuidados especiais. É acreditando, e levando-os também a acreditar, que é possível vencer as limitações impostas por condições adversas, que buscamos, continuamente, aprender mais e ampliar nossa compreensão sobre o desenvolvimento humano e o potencial de superação que lhe é próprio. Com isso, esperamos conseguir ensinar todos os alunos não apenas a respeitar e a tolerar o diferente, mas também a admirá-lo.
Paralelamente à excelência acadêmica que se expressa no rendimento dos melhores alunos, sem abrir mão de uma formação disciplinar específica e consistente, a boa escola oferece aos seus alunos uma formação sociocultural ampla, estimulando a postura ética e o gosto estético, favorecendo o exercício da crítica e da reflexão, desenvolvendo práticas de convivência que visem à construção da solidariedade e à cooperação, bem como promovendo atividades diversas que propiciam o desfrute de manifestações artísticas e o acesso a produções científicas.
Um em cada cinco pobres chega ao ensino médio
Demétrio Weber
O Globo
02.05/2008
Unesco mostra que desigualdade econômica pesa mais no acesso ao ensino do que diferenças raciais
As desigualdades econômicas pesam mais no acesso à educação do que as disparidades regionais e raciais. É o que mostra estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que comparou dados de escolarização no Brasil. A maior diferença ocorre com jovens de 15 a 17 anos matriculados no ciclo médio. Entre os 20% mais ricos, 77,2% cursavam o ensino médio. Na faixa dos 20% mais pobres, só 24,5%, distância de 52 pontos percentuais.
Os dados originais são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006, do IBGE. Eles foram incluídos no Relatório de Monitoramento de Educação para Todos, divulgado anteontem pela Unesco.
A escolarização nas diferentes regiões do país apresenta desníveis, mas em escala menor. No Sudeste, 57,7% dos jovens de 15 a 17 anos estavam no ensino médio - maior média regional -, contra 33% no Nordeste, a mais baixa: uma distância de 24 pontos percentuais. Na comparação entre áreas urbanas metropolitanas e rurais, a diferença ficava em 28 pontos e, entre brancos e negros, em 20.
A média brasileira é de 46,9% dos jovens de 15 a 17 anos no ensino médio. Isso não significa que a maioria esteja fora da escola: boa parte estuda no ensino fundamental, como resultado das altas taxas de repetência e evasão. Se consideradas todas as matrículas de jovens de 15 a 17 anos, independentemente do nível de ensino, 82% dos brasileiros nessa faixa estavam na escola. O índice é bem mais baixo do que os 97% observados na faixa de 7 a 14 anos, única em que o Brasil atingiu a universalização.
- Nosso desafio é fazer com que as médias nacionais se elevem - disse o ministro da Educação, Fernando Haddad.
No ensino superior, a diferença entre ricos e pobres é menor: 39 pontos percentuais. Mas o impacto é mais alarmante. No topo da pirâmide social, 40,4% dos jovens de 18 a 24 anos freqüentavam a faculdade, contra 0,8% dos mais pobres. Embora o acesso à escola tenha aumentado em todos os segmentos, as disparidades cresceram. Em 1999, 48 pontos percentuais separavam os mais pobres dos mais ricos em termos de acesso ao ensino médio na idade correta - 12,1% e 60,5%, respectivamente. Em 2006, já eram 52 pontos, apesar de o índice de freqüência dos mais pobres ter dobrado. No ensino superior a distância entre o topo e a base da pirâmide era de 23 pontos em 1999 - 0,4% a 24,1%. Aumentou para 39 pontos em 2006.