José Goldemberg
Correio Braziliense
07.05.2008
Secretário de Ciência e Tecnologia da Presidência da República O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, que há mais de 400 anos foi usada para preparar e exportar açúcar para a Europa. Há 30 anos, parte dessa cana começou a ser usada para produzir etanol (álcool), excelente combustível, que substitui com vantagem a gasolina.
O etanol tem maior octanagem que a gasolina, como se fosse uma gasolina aditivada (gasolina super). O etanol não tem as impurezas que a gasolina tem e que são responsáveis pela poluição do ar.
O etanol não é derivado do petróleo, mas de uma planta que cresce todos os anos, sendo, portanto, renovável. No fundo, etanol é energia do sol capturada através da fotossíntese na cana-de-açúcar. A produção de etanol praticamente não usa combustíveis fósseis e, portanto, não emite os gases do efeito estufa que estão aquecendo a Terra.
Cana-de-açúcar no sudeste do país, principalmente São Paulo, não necessita irrigação. O rendimento por hectare é ótimo: cerca de 6 mil litros por hectare, e tem aumentado gradativamente nos últimos 30 anos. O custo de produção é baixo, não necessita subsídio e compete favoravelmente com o custo da gasolina.
Nada mais natural, portanto, que o país se tornasse o maior produtor mundial de etanol. E já substitui quase metade da gasolina que seria usada no país se o etanol não existisse e 2% da gasolina do mundo, usando apenas 4 milhões de hectares da terra agriculturável.
Pode-se também produzir etanol de milho (como nos Estados Unidos), trigo e beterraba (na Europa), mas o rendimento por hectare é menor e o custo de produção muito maior. O custo da produção de etanol de milho é o dobro do brasileiro e o custo da produção a partir do trigo e da beterraba, três vezes maior.
Apesar das vantagens, avolumaram-se nos últimos meses as críticas ao uso de etanol do Brasil, por meio de quatro mitos que precisam ser desfeitos. Estes mitos são os seguintes: 1. A expansão da produção de etanol está causando o aumento do custo dos alimentos e a fome no mundo; 2. A expansão da produção está aumentando o desmatamento na Amazônia (o que simplesmente não é verdade); 3. Etanol não reduz, na realidade, as emissões dos gases de “efeito estufa”; 4. Só é viável no Brasil.
Alguns desses argumentos se aplicam à produção de etanol do milho nos Estados Unidos e na Europa, onde a produção é fortemente subsidiada. Essa é uma das razões pela qual o etanol do Brasil é atacado e explica a origem dos mitos. Se não houvesse barreiras comerciais à exportação de etanol do Brasil para os Estados Unidos e Europa, os produtores locais quebrariam, pois não teriam possibilidades de competir. Além disso, os produtores de petróleo estão inquietos com a possibilidade de o etanol passar a substituir 10% ou 20% da gasolina dentro de alguns anos.
Os mitos são falsos e têm sido desmentidos por trabalhos científicos de brasileiros publicados em revistas internacionais. O trabalho desses cientistas mostra claramente que o uso do etanol brasileiro reduz as emissões de gases do efeito estufa. Outros argumentos, principalmente o de que a expansão do etanol é a causa da fome no mundo, persistem, contudo. O argumento é absurdo: a produção de etanol (somando a área usada nos Estados Unidos e Brasil) ocupa apenas 10 milhões de hectares e toda a área usada para agricultura no mundo é 150 vezes maior.
O que há com os alimentos é especulação; principalmente no caso da produção de arroz, que não compete de forma nenhuma com a cultura de cana-de-açúcar. Outras causas são devidas ao aumento do preço do petróleo, que é importante em toda a cadeia da produção e transporte de alimentos.
O presidente da República tem feito um bom trabalho defendendo o etanol brasileiro em foros internacionais e lutado contra as barreiras alfandegárias, mas, para dissipar alguns dos mitos que impedem o avanço do etanol no mundo, seria importante que também o Ministério de Ciência e Tecnologia e outros ministérios se engajassem no processo. O presidente da República parece singularmente isolado na sua pregação ao redor do mundo.
Correio Braziliense
07.05.2008
Secretário de Ciência e Tecnologia da Presidência da República O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, que há mais de 400 anos foi usada para preparar e exportar açúcar para a Europa. Há 30 anos, parte dessa cana começou a ser usada para produzir etanol (álcool), excelente combustível, que substitui com vantagem a gasolina.
O etanol tem maior octanagem que a gasolina, como se fosse uma gasolina aditivada (gasolina super). O etanol não tem as impurezas que a gasolina tem e que são responsáveis pela poluição do ar.
O etanol não é derivado do petróleo, mas de uma planta que cresce todos os anos, sendo, portanto, renovável. No fundo, etanol é energia do sol capturada através da fotossíntese na cana-de-açúcar. A produção de etanol praticamente não usa combustíveis fósseis e, portanto, não emite os gases do efeito estufa que estão aquecendo a Terra.
Cana-de-açúcar no sudeste do país, principalmente São Paulo, não necessita irrigação. O rendimento por hectare é ótimo: cerca de 6 mil litros por hectare, e tem aumentado gradativamente nos últimos 30 anos. O custo de produção é baixo, não necessita subsídio e compete favoravelmente com o custo da gasolina.
Nada mais natural, portanto, que o país se tornasse o maior produtor mundial de etanol. E já substitui quase metade da gasolina que seria usada no país se o etanol não existisse e 2% da gasolina do mundo, usando apenas 4 milhões de hectares da terra agriculturável.
Pode-se também produzir etanol de milho (como nos Estados Unidos), trigo e beterraba (na Europa), mas o rendimento por hectare é menor e o custo de produção muito maior. O custo da produção de etanol de milho é o dobro do brasileiro e o custo da produção a partir do trigo e da beterraba, três vezes maior.
Apesar das vantagens, avolumaram-se nos últimos meses as críticas ao uso de etanol do Brasil, por meio de quatro mitos que precisam ser desfeitos. Estes mitos são os seguintes: 1. A expansão da produção de etanol está causando o aumento do custo dos alimentos e a fome no mundo; 2. A expansão da produção está aumentando o desmatamento na Amazônia (o que simplesmente não é verdade); 3. Etanol não reduz, na realidade, as emissões dos gases de “efeito estufa”; 4. Só é viável no Brasil.
Alguns desses argumentos se aplicam à produção de etanol do milho nos Estados Unidos e na Europa, onde a produção é fortemente subsidiada. Essa é uma das razões pela qual o etanol do Brasil é atacado e explica a origem dos mitos. Se não houvesse barreiras comerciais à exportação de etanol do Brasil para os Estados Unidos e Europa, os produtores locais quebrariam, pois não teriam possibilidades de competir. Além disso, os produtores de petróleo estão inquietos com a possibilidade de o etanol passar a substituir 10% ou 20% da gasolina dentro de alguns anos.
Os mitos são falsos e têm sido desmentidos por trabalhos científicos de brasileiros publicados em revistas internacionais. O trabalho desses cientistas mostra claramente que o uso do etanol brasileiro reduz as emissões de gases do efeito estufa. Outros argumentos, principalmente o de que a expansão do etanol é a causa da fome no mundo, persistem, contudo. O argumento é absurdo: a produção de etanol (somando a área usada nos Estados Unidos e Brasil) ocupa apenas 10 milhões de hectares e toda a área usada para agricultura no mundo é 150 vezes maior.
O que há com os alimentos é especulação; principalmente no caso da produção de arroz, que não compete de forma nenhuma com a cultura de cana-de-açúcar. Outras causas são devidas ao aumento do preço do petróleo, que é importante em toda a cadeia da produção e transporte de alimentos.
O presidente da República tem feito um bom trabalho defendendo o etanol brasileiro em foros internacionais e lutado contra as barreiras alfandegárias, mas, para dissipar alguns dos mitos que impedem o avanço do etanol no mundo, seria importante que também o Ministério de Ciência e Tecnologia e outros ministérios se engajassem no processo. O presidente da República parece singularmente isolado na sua pregação ao redor do mundo.