Wagner Gomes
"Acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto."
Mahatma Gandhi, religioso indiano
Mário Genival Tourinho completa 75 anos em 04.05.2008. Três quartos de século, vividos por inteiro. E hoje sua imagem está sacralizada e o seu vulto paira como um dos heróis da Nação. Só que esses heróis modernos, de tão modestos, levam uma vida bem diferente daquela de quando se projetaram e se agigantaram aos olhos de todos nós. Houve um tempo em que a brutalidade do regime militar massacrava quase toda a esquerda brasileira, principalmente aqueles que sonhavam há quarenta anos. Neste ano, 2008, comemora-se 40 anos de 1968, o ano dourado em que nada aconteceu ou tudo aconteceu. O ano que se tornou encantado no mundo inteiro. No Brasil, as grandes passeatas e os grandes festivais de música assustavam o regime então vigente, clamando por liberdade, culminando com a monumental passeata dos cem mil que fez o Rio de Janeiro pulsar de civismo e entusiasmo, em 26.06.1968. Acuado, o regime de então escancarou a ditadura militar, com a edição do Ato Institucional No. 5, em 13 de dezembro de 1968. Um jovem montes-clarense, de bravura indômita, assistia a tudo aquilo com uma enorme indignação, pois era o primeiro suplente de Deputado Federal, em um ambiente propício a cassações de mandatos. Destemido e corajoso, Genival Tourinho assume em 1969, pela primeira vez, o mandato que a suplência lhe reservava, com a fé inquebrantável de quem luta por um sonho. O ambiente era hostil, mas sua figura transcendia ao do político comum, pois desde aquela época entendia que o homem público não é aquele que orbita em torno do governo, mas sim aquele que se posta de tal forma comprometido aos anseios do seu eleitorado, aos quais ele deverá sacrificar até sua integridade física, se necessário for. Assim, a luta contra a radicalização política brotada em 1968 se tornou o ponto de partida de Genival, e a principal bandeira de toda sua trajetória pública. Esse homem sem medo sacrifica sua própria reeleição em 1970, para pregar abertamente a campanha “Anule o Seu Voto” em represália aos anos de chumbo. Por tudo isso, sua imagem se fortaleceu e ele retoma a vida parlamentar em 1974, seguindo sua cruzada em defesa da abertura política e da anistia geral, ampla e irrestrita. Segundo relatos daquela época, tal qual um paladino, botava a boca no mundo, denunciando ameaças à integridade física de diversos políticos, a exemplo de Brizola e Juscelino, aos quais sempre defendeu. Reconhecido e respeitado, sua fama extrapola e chega ao exterior como um dos ícones que imaginavam um Brasil e um mundo mais justos, menos violentos, mais democráticos e livres. Ganhou de vez a antipatia do regime ao denunciar a Operação Cristal, acusando o General Bandeira - um militar polêmico, de instigar a colocação de bombas nas bancas de jornais e na OAB -, com quem, corajosamente, travou áspera discussão, ao afirmar que o mesmo havia perdido sua capacidade de saber diferenciar entre o que é autêntico e o que é fraude. As denúncias incluíam, ainda, o nome do General Milton Tavares (São Paulo). Claro que, nessa luta, Genival não estava sozinho. Muitos brasileiros ilustres também pressionavam de suas tribunas pela abertura. A certa altura, por volta de 1980, Golbery do Couto e Silva, rendendo-se às evidências, sentenciava que a abertura só estava sendo possível após a divisão da frente oposicionista. Centrando forças na liquidação de movimentos grevistas, dizia ser necessário coibir manifestações agressivas e impróprias (referindo-se aos parlamentares). E em lugar de atender a chamada ala dura do regime, apela para o caminho da “lei e da justiça que foram instituídas pelo governo militar”. Assim, enquadram o atual Presidente Lula na Lei de Segurança Nacional por ter comandado a greve metalúrgica de março de 1980 e Genival Tourinho por “ofensas” às Forças Armadas, imaginando deixá-lo sem voz. Posteriormente, o Almirante de Esquadra Júlio de Sá Bierrenbach sacudiu o Tribunal Militar em 2 de outubro de 1981 ao votar contra o arquivamento do caso da explosão das bombas no Rio Centro, alegando que se tivessem apurado as denúncias do Genival aquele ato terrorista não teria acontecido. Por tudo isso, Genival Tourinho merece ser festejado e homenageado. Devemos relembrar e celebrar sua luta em um tempo que se foi – mas que estará sempre presente na história da Nação -, pois ela era dirigida à memória dos irmãos que caíram e visava cessar as atrocidades denunciadas. Sua trajetória tem inegável riqueza, e por isso hoje o reverenciamos. Saúde, Genival Tourinho! Receba, em seu aniversário, o reconhecimento de todos os brasileiros. Você nos ensinou que precisamos identificar e desarticular as redes de ilusões que se formam ao nosso redor. Deus lhe proteja e lhe faça feliz.
"Acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto."
Mahatma Gandhi, religioso indiano
Mário Genival Tourinho completa 75 anos em 04.05.2008. Três quartos de século, vividos por inteiro. E hoje sua imagem está sacralizada e o seu vulto paira como um dos heróis da Nação. Só que esses heróis modernos, de tão modestos, levam uma vida bem diferente daquela de quando se projetaram e se agigantaram aos olhos de todos nós. Houve um tempo em que a brutalidade do regime militar massacrava quase toda a esquerda brasileira, principalmente aqueles que sonhavam há quarenta anos. Neste ano, 2008, comemora-se 40 anos de 1968, o ano dourado em que nada aconteceu ou tudo aconteceu. O ano que se tornou encantado no mundo inteiro. No Brasil, as grandes passeatas e os grandes festivais de música assustavam o regime então vigente, clamando por liberdade, culminando com a monumental passeata dos cem mil que fez o Rio de Janeiro pulsar de civismo e entusiasmo, em 26.06.1968. Acuado, o regime de então escancarou a ditadura militar, com a edição do Ato Institucional No. 5, em 13 de dezembro de 1968. Um jovem montes-clarense, de bravura indômita, assistia a tudo aquilo com uma enorme indignação, pois era o primeiro suplente de Deputado Federal, em um ambiente propício a cassações de mandatos. Destemido e corajoso, Genival Tourinho assume em 1969, pela primeira vez, o mandato que a suplência lhe reservava, com a fé inquebrantável de quem luta por um sonho. O ambiente era hostil, mas sua figura transcendia ao do político comum, pois desde aquela época entendia que o homem público não é aquele que orbita em torno do governo, mas sim aquele que se posta de tal forma comprometido aos anseios do seu eleitorado, aos quais ele deverá sacrificar até sua integridade física, se necessário for. Assim, a luta contra a radicalização política brotada em 1968 se tornou o ponto de partida de Genival, e a principal bandeira de toda sua trajetória pública. Esse homem sem medo sacrifica sua própria reeleição em 1970, para pregar abertamente a campanha “Anule o Seu Voto” em represália aos anos de chumbo. Por tudo isso, sua imagem se fortaleceu e ele retoma a vida parlamentar em 1974, seguindo sua cruzada em defesa da abertura política e da anistia geral, ampla e irrestrita. Segundo relatos daquela época, tal qual um paladino, botava a boca no mundo, denunciando ameaças à integridade física de diversos políticos, a exemplo de Brizola e Juscelino, aos quais sempre defendeu. Reconhecido e respeitado, sua fama extrapola e chega ao exterior como um dos ícones que imaginavam um Brasil e um mundo mais justos, menos violentos, mais democráticos e livres. Ganhou de vez a antipatia do regime ao denunciar a Operação Cristal, acusando o General Bandeira - um militar polêmico, de instigar a colocação de bombas nas bancas de jornais e na OAB -, com quem, corajosamente, travou áspera discussão, ao afirmar que o mesmo havia perdido sua capacidade de saber diferenciar entre o que é autêntico e o que é fraude. As denúncias incluíam, ainda, o nome do General Milton Tavares (São Paulo). Claro que, nessa luta, Genival não estava sozinho. Muitos brasileiros ilustres também pressionavam de suas tribunas pela abertura. A certa altura, por volta de 1980, Golbery do Couto e Silva, rendendo-se às evidências, sentenciava que a abertura só estava sendo possível após a divisão da frente oposicionista. Centrando forças na liquidação de movimentos grevistas, dizia ser necessário coibir manifestações agressivas e impróprias (referindo-se aos parlamentares). E em lugar de atender a chamada ala dura do regime, apela para o caminho da “lei e da justiça que foram instituídas pelo governo militar”. Assim, enquadram o atual Presidente Lula na Lei de Segurança Nacional por ter comandado a greve metalúrgica de março de 1980 e Genival Tourinho por “ofensas” às Forças Armadas, imaginando deixá-lo sem voz. Posteriormente, o Almirante de Esquadra Júlio de Sá Bierrenbach sacudiu o Tribunal Militar em 2 de outubro de 1981 ao votar contra o arquivamento do caso da explosão das bombas no Rio Centro, alegando que se tivessem apurado as denúncias do Genival aquele ato terrorista não teria acontecido. Por tudo isso, Genival Tourinho merece ser festejado e homenageado. Devemos relembrar e celebrar sua luta em um tempo que se foi – mas que estará sempre presente na história da Nação -, pois ela era dirigida à memória dos irmãos que caíram e visava cessar as atrocidades denunciadas. Sua trajetória tem inegável riqueza, e por isso hoje o reverenciamos. Saúde, Genival Tourinho! Receba, em seu aniversário, o reconhecimento de todos os brasileiros. Você nos ensinou que precisamos identificar e desarticular as redes de ilusões que se formam ao nosso redor. Deus lhe proteja e lhe faça feliz.
