2.4.08

GUIA DO DENGUE

Dr. Paulo Olzon

Infectologista
Fonte: MSN

O que é
Por incrível que pareça, o dengue mata menos do que a gripe, segundo as estatísticas. E, no entanto, assusta bem mais. Muito se deve ao verdadeiro boom de notícias que cercam a epidemia. E, de fato, isso tem razão de ser. Afinal, o inseto transmissor contamina cerca de 100 milhões de pessoas a cada ano, matando 24 mil delas em todo o mundo. É isso mesmo: trata-se de um problema mundial, já que o Aedes aegypti marca presença nas regiões tropicais.A Venezuela, por exemplo, já enfrentou uma epidemia de dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença. E já há registros do mal até no sul dos Estados Unidos. No Brasil, a região mais
atingida é a Sudeste, que concentra cerca de 75% dos casos.A febre hemorrágica costuma ser fatal em 5% dos casos. As epidemias causadas pelos quatro tipos de sorotipos da dengue têm se tornado cada vez mais freqüentes e maiores nos últimos 20 anos. Desde 2002, a dengue é endêmica, ou seja, constante, na maioria dos países tropicais do Pacífico Sul, Ásia, Caribe, América e África. Além disso, na maioria dos centros urbanos destas regiões houve uma multiplicação dos tipos de vírus da dengue em circulação (hiperendemia), o que aumentou a transmissão da dengue e o risco de se contrair a variação hemorrágica desta doença.
Não é possível prever de forma acurada quais áreas específicas poderão ser atingidas pela dengue no futuro, mas é previsível que nas áreas tropicais a doença siga com um grau elevado de transmissão.
Contágio
O dengue é causado por um vírus, que pode ser de quatro subtipos 1, 2, 3 ou 4. A infecção por um deles gera imunidade contra essa forma. Por aqui, por enquanto, só há registros das três primeiras. Mas esse vírus não é transmitido de pessoa para pessoa: o contágio se dá basicamente pela picada do mosquito Aedes aegypti. É que as fêmeas precisam de uma proteína do sangue humano para desenvolver seus ovos. Por isso, pode-se dizer que elas picam por uma questão de sobrevivência. O problema é que, em troca, deixam o vírus no corpo da vítima, que pode ter sido herdado dos pais ou obtido ao picar alguém infectado.
Esses mosquitos, que têm hábitos diurnos, se proliferam em qualquer acúmulo de água limpa inclusive plantas como a bromélia. No calor, a fêmea coloca ali de 40 a 50 ovos, que dois dias depois eclodem e liberam larvas. Elas levam até dez dias para se tornarem insetos adultos. De nada adianta trocar a água dos recipientes, pois os ovinhos conseguem sobreviver grudados às paredes. E pior: podem permanecer mais de um ano assim, até que um novo acúmulo de água permita o seu desenvolvimento!
Dengue na gravidez
Existe pouca informação publicada a respeito dos riscos da dengue para mulheres grávidas. Apesar de muitas epidemias, nenhuma má formação congênita foi verificada depois de surtos da doença. Um pequeno número de casos reportados recentemente sugere que, se a mãe estiver infectada com o vírus da dengue perto do nascimento do bebê, a criança poderá nascer infectada também ou adquirir a doença no momento do parto.
Controle
Não existe vacina contra a dengue. Por isso o único meio de controlar a doença é evitar a proliferação do mosquito, com as dicas conhecidas: evitar o acúmulo de água em embalagens vazias como garrafas e latas, cobrir caixas d´água, trocar a água dos vasos por terra, desobstruir calhas, cobrir o lixo, não deixar pneus a céu aberto, enfim, evitar todo e qualquer lugar que acumule água.Em lugares com muita umidade, o uso de repelentes é recomendado. Os produtos mais eficientes. são os que contêm N,N-diethylmetatoluamide (DEET).
Produtos com paracetamol são recomendados para conter a febre. Remédios à base de ácido acetilsalicílico (como aspirina) e antiinflamatórios não-esteróides devem ser evitados por conta de suas propriedades anti-coagulantes. Os pacientes infectados devem descansar e beber muito líquido. Nos casos graves, aplicações intravenosas imediatas são necessárias para manter a pressão sanguínea em níveis adequados. Os sinais vitais precisam ser monitorados com freqüência. A hipertensão arterial é uma complicação mais freqüente do que a forte hemorragia na versão mais perigosa da doença.
Sintomas
A doença é relativamente benigna já que em 95% dos casos não ameaça a vida do paciente. Os sintomas são febre alta, dor de cabeça, dor nas juntas, nos músculos e atrás dos olhos, fraqueza, falta de apetite. Depois de três ou quatro dias podem surgir manchas vermelhas pelo corpo e coceira. Também pode haver um leve sangramento pelo nariz ou nas gengivas. A grande maioria dos casos começa a melhorar em quatro ou cinco dias, recuperando-se totalmente em dez.Mas uma pequena minoria pode apresentar um agravamento do quadro depois de três dias, ou quando a febre começa a ceder. O paciente tem
uma queda de pressão, que pode estar acompanhada de dores abaixo das costelas, suores frios, tonturas e desmaios. Isso é sinal da forma mais grave, a hemorrágica. Surgem ainda sangramentos em vários órgãos e a vítima entra em estado de choque. Normalmente essa forma aparece em quem já teve dengue uma vez.Os sintomas aparecem de forma repentina, após o período de incubação do vírus, que pode durar de 3 a 14 dias (o mais comum é que ele leve de 4 a 7 dias). São eles: febre alta, forte dor na parte da frente da cabeça, dor muscular e nas juntas.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é basicamente clínico, isto é, através do exame físico e da história do paciente. Existem exames que identificam exatamente qual vírus infectou o paciente, mas eles costumam apontar o resultado em cerca de 15 dias, quando a vítima normalmente já está curada. Por isso ninguém espera saber qual vírus está por trás da encrenca para começar o tratamento, que consiste basicamente em manter o paciente sem febre, em repouso, à base de antitérmicos e fazendo reidratação oral.Os remédios à base de ácido acetilsalicílico são proibidos pois aumentam a chance de hemorragias. A pessoa deve ser cuidadosamente acompanhada
para o caso de o quadro se agravar. Nessa situação, é indispensável procurar um serviço médico com urgência.





OMS diz que mudança climática pode expor 2 bilhões à dengue até 2080
Marta Hurtado Genebra, 07.04.2008 (EFE) - Em relatório divulgado hoje por ocasião do Dia Internacional da Saúde, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a mudança climática pode aumentar para dois bilhões o número de pessoas expostas à dengue até o ano de 2080.
Segundo a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, a epidemia de dengue que atinge a América do Sul não se deve única e exclusivamente à mudança climática, mas o aumento das temperaturas ajudou muito a expansão da doença.
"Os efeitos da mudança climática já podem ser percebidos. É necessária uma ação urgente para minimizar seus efeitos, não é especulação, mas uma realidade", declarou hoje em entrevista coletiva Margaret Chan.
A diretora-geral afirmou que a mudança climática é "uma ameaça direta à saúde", uma vez que as conseqüências do aquecimento global "podem afetar alguns dos elementos mais importantes para a saúde, como o ar, a água, os alimentos, um teto para se abrigar e a ausência de enfermidades".
Para Chan o ser humano já está exposto a doenças que sofrem significativa influência do clima e que causam milhões de mortes por ano.
Como exemplo citou a desnutrição - responsável por mais de 3,5 milhões de mortes por ano -, as doenças relacionadas à diarréia - que matam mais de 1,8 milhão - e a malária - causadora de mais de um milhão de mortes por ano.
"Com a mudança climática esta situação vai piorar", declarou a diretora-geral.
Segundo ela, os efeitos nocivos da mudança climática já podem ser comprovados em recentes catástrofes, como a onda de calor na Europa em 2003 que matou 70 mil pessoas, o furacão Katrina - nos EUA -, a epidemia de malária na África Oriental agravada pelo aumento da temperatura e a pandemia de cólera em Bangladesh após as grandes inundações.
"Há muito a fazer hoje para evitar que estas situações se repitam", declarou Chan.
As doenças causadas pelos mosquitos e outros agentes transmissores causam anualmente mais de um milhão de mortes e as doenças ligadas à diarréia mais 1,8 milhão.
Segundo o relatório, atualmente a poluição do ar causa 800 mil mortes por ano.
As estimativas citadas pela OMS dizem que, caso a temperatura global aumente 1 grau centígrado, poderia haver 20 mil mortes anuais a mais por causa de doenças cardiorrespiratórias.
Por isto os membros da agência da ONU consideram que esta é a hora de se estudar profundamente as conseqüências que o aquecimento global pode ter para poder atuar imediatamente.
"Precisamos conhecer a magnitude do problema para melhor entender o tema, identificar os buracos negros e desenvolver programas para tapá-los", afirmou o diretor-geral adjunto da entidade, David Heymann.
A OMS e seus associados - o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, a Organização Meteorológica Mundial - estão desenvolvendo um plano de trabalho e uma agenda para elaborar estimativas melhores sobre o tamanho e a vulnerabilidade da saúde humana.
Quando estiver com todas as informações, serão elaboradas estratégias e instrumentos para ajudar os Governos a implementar programas de planejamento e contingência.