13.3.08

FESTIVAL NACIONAL DO PEQUI, CONCURSO GASTRONÔMICO

Concurso gastronômico...

À propos... Ops! Ia começar em francês... Voltemos ao vernáculo... A propósito da última edição do Festival Nacional do Pequi, o prato vencedor do concurso gastronômico, Risote noir au pommes jaune, simplesmente não tem tradução possível. No sofisticado nome só está correta a palavra noir, que, em francês, significa negro. Risote? De onde veio isso? Inexiste tal termo em francês! A palavra é italiana, RISOTTO (iguaria típica da Itália, feita de arroz colorido com açafrão, levando ainda manteiga e queijo parmesão). Arroz, em francês, é RIZ. E também não existe rizote nem rizotte, nem na França nem na China. Vamos adiante que estou com fome.AU? Em português, onomatopéia, no caso imitação grafada do latido de cães. Em química, símbolo do ouro que, em pó, vem sendo salpicado em alguns pratos de restaurantes caríssimos - pra que, Joãozinho? Pra dourar o cocô, suponho. Penso que o padrinho do prato quis dizer AUX - aí, sim, estaria corretíssimo, significando o termo ao mesmo tempo ao ou com (aux é o plural de au...).POMMES? Ah, fosse eu jurado... Pomme, meu criativo cozinheiro, en français significa maçã, não é Madeleine? E batata é pomme de terre... Como a palavra pequi ainda não foi traduzida para a língua de Balzac, sugiro péqui ou pequit. Pequit fica mais chic, non? E, ao cabo, JAUNE (amarelo), que deveria ter ido para o plural, jaunes, se a coisa estivesse certa.
Levando todos esses termos-ingredientes ao liquidificador, o resultado certamente causará uma brutal indigestão, dado à redondance dos dois últimos - correto o prognóstico, não, dr. Loyola? Pois onde já se viu pequi azul ou vermelho? Porém, se o assinante do prato quis dizer batatas amarelas, aí sim, ponto para ele, porque já as vimos até mesmo brancas. Seria apenas um ligeiro pleonasmo, o que também pode melindrar a pleura. Que coisa! Hein, Quinzinho? O senhor estava certo: "montesclarense faz um xixizim e logo acha que é o rio Amazonas..." É no que dá cozinheiro lontrino meter a colher em panela de chef de cuisine francês.
Ainda a tempo, queremos pedir encarecidamente ao vencedor do concurso que releve a brincadeira acima. Embora não tenhamos provado do prato, deu água na boca só de vê-lo estampado, em destaque, na primeira página do jornal. Sabemos todos quão grande piloto de fogão ele é, o cuca. Fica apenas uma sugestão: corrija já o nome do prato! D'accord, Baby Figueiredô? Talvez, Riz noir aux pommes de terre jaunes, se o caso for batatas; ou Riz noir aux pequites, se pequis. Na última hipótese, jamais junte o jaunes, para não incorrer em redondance. Mas, pensando bem, talvez seja melhor deixar o pequi ao natural. Nada de péqui ou pequit, pois o francês já carrega nas sílabas finais, não é mesmo, M. Perreirá?
Confesso, finalmente, que não resisti à tentação de escrever o presente artigo. Não levado pela simples crítica ou gozação, comportamentos incompatíveis com o meu feitio. O que deveras me preocupa é a repercussão internacional do fato. Ora, é sabido que nossos diários atravessam fronteiras, vão além-mar. Portanto, o que deve ter pensado o presidente Sarkozy ao tomar conhecimento do resultado do concurso gastronômico realizado em Moc, ao constatar a grave agressão à sua língua materna? Seguramente, a nossa diplomacia não se acha preparada para o inusitado da questão. Não estarão todos, em todos os cafés de Paris, discutindo o assunto? Os franceses discutem tudo, sobretudo gastronomia, e o pequi já anda por lá, segundo nos informa a amiga Adriana. Na Inglaterra, o príncipe Charles acaba de banir o foie gras no dia a dia da família real e nos banquetes oficiais, pelo sofrimento que a sua obtenção causa aos pobres patos e gansos... Em substituição a tão nobre e requintada iguaria, cogita introduzir o pequi, sim, a nossa fruta amarela, para gáudio de todos nós, norte-mineiros. Quanto aos EUA, americanos tradicionalmente engolem gato por lebre, mas como são altamente influenciados pela nobreza britânica e pela culinária francesa, todo cuidado é pouco, pois estamos a perder um grande mercado. E em se falando do mercado, com relação ao chinês o problema pode chegar a dimensões catastróficas. Explico: estuda-se, nos laboratórios da Embrapa, um meio de diminuir o potencial afrodisíaco do pequi a ser exportado para aquele país do Oriente. Já contam com mais de um bilhão de habitantes e a última coisa que desejam é um boom de nascimentos. Mas querem porque querem roer o fruto ainda proibido, daí a pressa de nossos cientistas em atender-lhes a volúpia. Lula, sem sombra de dúvida, deve estar dando socos na mesa. E dessa vez ele sabe de tudo...

Tá vendo, Reginauro, como um singelo concurso de arroz com pequi pode traumatizar o mundo? É a tal globalização, João Avelino. Agora, uma pergunta que não quer calar e perguntar não ofende, né, Lunga? Por que o senhor prefeito municipal não interveio no resultado do concurso? Ah, com certeza vai responder através da sua Ascom ou pela boca da Cultura de que isso jamais seria possível. Ora bolas! Prefeito é prefeito, ou não? Deve, por vezes, fazer valer, exercer a autoridade absoluta, mormente em se tratanto da defesa intransigente de nossa soberania econômico-cultural.