24.1.08

PARA PATÃO




PATÃO


Publicado em O NORTE, 16.02.2008

O notável artista plástico e músico Hélio de Castro Guedes sempre foi chamado carinhosamente de Patão. Oriundo de uma família de artistas e músicos, cresceu no estúdio do pai, o famoso pintor Godofredo Guedes. Patão é irmão do cantor Beto Guedes e tio do cantor Gabriel Guedes. É um mestre do bom humor e da irreverência. Fazendo parte do conjunto folclórico Banzé, certa vez estava desde as 4 horas da tarde no Automóvel Clube aguardando a chegada do governador do estado que seria homenageado.
O homem só chegou às 22 horas e Patão se aproximou e aplicou um beliscão na barriga em represália, falando na bucha:
- Isso são horas, seu moço?
Escapou de uma cotovelada a tempo.
Estando o Banzé em noite de gala no Max Min Clube, ocasião em que se recepcionava o idoso casal de diretores presidentes do grupo empresarial e industrial Servienge-Matsulfur, havia uma grande mesa em U, recheada de frutas, que decorava o centro do clube.
Dona Zezé Colares, a notável criadora e líder do conjunto folclórico que já correu mundo várias vezes, estando afônica, solicitou que um componente do grupo fizesse as apresentações do Banzé. Patão, representando a equipe de artistas, tomou a palavra. Pra quê! Disse:
- Senhoras e senhores! Prezadas crianças (já era meia noite, e não havia crianças no interior do clube).
Dirigindo-se ao idoso casal homenageado:
- Meus velhinhos cheirosos...
Prossegue a apresentação:
- O Banzé é isso aí, bicho!
Repete:
- O Banzé é isso aí, bicho! Banzé significa bagunça!
Transcorre um grande, terrível e angustiado silêncio no recinto, quando então conclui:
- Vamos deixar de frescura, apanhar as frutas da mesa e fazer uma vitamina!
Aos 59 anos recebe uma visita que lhe levou um convite para a sua participação em um grupo de terceira idade. Indignado, Patão vocifera:
- Eu sou roqueiro, bicho! Eu sou roqueiro!
São 10 horas da manhã. Vindos de uma noite de farra e completamente embriagados, entram na igreja Matriz e se postam na fila da comunhão. Padre Dudu, indignado com a invasão do magote de notívagos, entre eles Tico Lopes, Roxo, Sula, Tino Gomes.
O padre, indignado, aborda Patão na frente da fila e pergunta:
- Vocês ao menos fizeram uma primeira comunhão em suas vidas?
Patão responde, na bucha:
- Zero a zero, bicho!
Em um domingo, voltando de Barretos, onde fez uma apresentação na festa do Peão Boiadeiro, o grupo Banzé parou em Belo Horizonte. Dona Zezé convida todos para passar a noite em seu apê. Como os componentes tinham obrigações com trabalho ou estudo na segunda-feira, ficou somente Patão, que era autônomo.
Ele, imaginando ficar sem um companheiro na sua estada em Belô, convida o Bego para lhe fazer companhia. Bego pergunta:
- Dê-me uma razão pra eu ficar!
Patão responde em cima do pedido:
- Vamos riscar o sintecão do apê de dona Zezé!
PS: A citação a seguir é de autoria do escritor montes-clarense Felippe Prates, que presta uma homenagem a Patão:
Grande Patão! Soube que o querido amigo está doente. Resista, saia dessa, caboclo! É o que, de coração, lhe desejamos a você, nossa lenda, eterno e indubitável





Encontro de assombrados à porta da Cristal
Publicado em O NORTE, 18/01/2008

Seis da tarde quente no saudoso ano de 1982. A cerveja gelada e a cachaça rolavam soltas no Bar Quintal do Waltim. Numa mesa, Tico Lopes, Dácio Cabeludo, Cláudio Ataíde, Popó e o próprio Waltim. Combinaram uma farra na noite seguinte na Cristal.
Devido ao não comparecimento de Cláudio, os demais se desestimularam e a farra foi adiada. Passaram-se dias e o quarteto dos filhos de Figueira, com pós-graduação em botecos e lupanares até no exterior se encontram novamente no Bar Quintal. Cobraram do Cláudio um esclarecimento. Esse, abrindo um sorriso amarelo relata que na noite anterior ao quase encontro marcado na Cristal, voltava para casa, já a uma da manhã vindo do Automóvel Clube, e ao passar pelo cruzamento da rua Simeão Ribeiro com Governador Valadares, no Centro, quase foi atropelado por um elefante gigante.
Parou o veículo a tempo, deu marcha ré largou o carro abandonado e gramou o beco. Fez uma oração às almas pedindo para livrá-lo daquela assombração africana. Na manhã seguinte, foi tomar uma no restaurante de Zé Priquitim para aplacar o estresse. Ocasião em que relatou o fato.
Zé Priquitim e para seu assombro maior declarou que também estava sendo perseguido por assombrações. Ao abrir o freezer na dispensa do seu restaurante, uns bifes congelados saltaram de dentro e grudaram na sua camisa. Há dois dias não entravam lá! Estava apavorado com a perseguição dos bifes.
Cláudio continua o relato alegando que Popó lhe confidenciara que toda fechadura de porta que ele olhava via um rabo de lagartixa saindo e entrando. Estava apavorado! Para piorar a situação, Waltim alegou que há trinta dias vinha sendo perseguido por uma boquinha fantasma.
A mesma tentava morder as suas orelhas e ele para se precaver estava fazendo umas novenas de joelho.
Cláudio informou ainda que para tirar a cuanga tomara banho com uma garrafada de água do Rio Paraguaçú, colocara sete folhas de arruda machas no pé de sapato esquerdo e comprara uma medalha benta de São Salomão Bin Bin na Casa Minas Gerais.
Para fechar o corpo, usava um patuá feito das sete forças do Ebó de Exé, confeccionado pela Mãe Baiana, na roda de Oxum Maré.
Naquele dia, entretanto, os jornais publicaram reportagem dando conta que um grande elefante fugira naquela noite do circo que estava na cidade. A fuga fora motivada pela fome que o animal passava. Invadiu o Mercado Municipal e comeu dezenas de melancias.
E como o encontro com o paquiderme foi real, a turma, para comemorar, reeditou e fez a dita folia na Cristal.




PARA PATÃO

Publicado em O NORTE, 22.01.2008
Augusto Vieira*

Meu querido Pato, nesta tarde de domingo, depois de receber notícias sobre seu estado de saúde, através da prima pelo coração Márcia “Yellow” Vieira, bateu uma puta sodade docê. Só consegui expressá-la num poeminha. Lute amigo, até o fim. Estaremos sempre juntos. Axé!!!


E lá vem ele, soberano, pela Rui Barbosa,
Com tênis, calça jeans, colete e seu “oclin”,
Buscando amigos prum naco de prosa,
Observando tudo, tim tim por tim tim.
De repente ouve, ao longe, um grito antigo
Para, procura circunspecto o autor do brado
E vê dois braços lhe estendendo abrigo:
É Tico Lopes, sorrindo emocionado.
Depois do abraço, num banco da Praça
Onde existia o mais lindo Mercado
E agora existe um predião sem graça
Deixam o papo de sempre atualizado.
Levantam âncoras. Ao Café Galo!
Quem sabe pra rever linda mulher
Desfilar, sem passarela e no embalo
De ardentes olhares de quem não a quer.
A cervejinha? Não sem a guia: “Viriatinha”.
Estalam a língua, saboreando o “mé”,
Na esperança de por ali dar uma voltinha
Um grande amigo, Haroldinho, o “Cabaré”.
E não é que ele aparece? Foi milagre?
Eta, o homem chegou! Ô trio “bão”!
Só tomando mais uma, seu cabeça de bagre!
Isso é hora de chegar? Que dormição?!?!
E descem os três à Praça da Matriz,
Celebrando a vida e o encanto da amizade,
Ao encontro de um imenso ex-Juiz
Que os espera desde o cair da tarde.
E o paquiderme, ao vê-los, se levanta
E solta fogos temporões de “seu” Firmino.
E na Igreja Padudu, solene, canta
Em homenagem ao amor um novo hino.
E esta visão e este momento terno
Naquela Praça, antes florida e bela,
Patão, amigo, artista, imortal e eterno,
Registra tudo numa imensa tela

* Escritor


Virgínia de Paula e Patão
Patão, eu e Gueu