ROGERINHO, aos seis anos
Papai não era lá muito generoso em se tratando de presentes fora de hora. Os netos aguardavam ansiosos a chegada do Natal, como qualquer criança lúcida e sadia. Ao longo do ano recebiam seus presentes (aniversário, dia das crianças...), todos eles da vovó Lourdes, um repositório de datas comemorativas. No Natal, sequiosos, comentavam entre si qual seria o presente do vovô. Era sempre o mesmo: num envelope, com o nome de cada um deles, a maior cédula existente no país. Rogerinho, após dois anos recebendo a mesma quantia, não se conformou:
- Vô, e a inflação?
Ganhou o dobro, pela presença de espírito e inteligência. Os demais netos ficaram babando...
RAPHINHA, aos 4 anos
Chegara eu a casa de Rita e Boca, meus diletos amigos.irmãos. Perguntei por Rapha. "Tá no banho", disse a mãe. " Sozinho?" perguntei. "É, tá aprendendo..." Surge Rafha, enrolado em toalha.
- Lavou tudo direito, amor? Abriu o pintinho, como mamãe ensinou?
- Não, tinha uma azeitona lá dentro...
HENRIQUE, aos 16-17 anos
Mamãe andava preocupada com a possibilidade de o seu caçula vir a engravidar uma daquelas meninas que não o largavam.
- Meu filho, deixe de andar com essas moças... Procure "moças de família"...
- Mas, mamãe, todo mundo tem família!
TAVINHO, aos 8 anos
Ucho, descabelado, superpreocupado com o "português" empregado pelo filho ao comunicar-se com os amigos pela net: c q sab... kd?... vlw... flw... ata... iai?... soh...
- Boipeba, você não deve escrever assim. O correto, é: Você é quem sabe... Onde está?... Valeu... Falou... Ah, sim... E aí?...
Tavim, nem tchum, desdenhou: Aff!, que desperdício!
MARININHA, aos 2 anos e meio
Quase em cima da hora da missa das 18:00 na Catedral, mamãe procurava o terço pela casa. Pediu a intervenção de São Longuinhos, nada... Procura de cá e de lá, deu com a neta com o terço ao pescoço.
- Marina, você não me viu procurando pelo terço?
- .................
- Taí, no seu pescoço...
- Uai, vovó, isso chama terço? Pensei que fosse colar...
TIO PITANGO, aos 14 anos
Meu tio Fernando fora passar férias em Encruzilhada, Bahia, com o irmão médico (papai). Alguns dias após sua chegada é incumbido de levar supositórios a casa de uma cliente.
- Dona, dr. Aroldo me mandou entregar-lhe esses supositórios. Disse que devem ser introduzidos, um a um, de doze em doze horas.
- Disse o quê? Repete o recado direito, menino.
- Disse para a senhora introduzir cada um desses supositórios a cada doze horas.
- Introduzir?
- É, enfiar...
- Mas, enfiar onde, meu filho?
- No ânus...
- Hein?
- No... no... no có, no có...
MAMÃE
Tempos idos, brincava-se o carnaval no Clube Montes Claros. Como boa baiana mamãe tinha de cor todas as letras de todas aquelas marchinhas. E cantava. O hit carnavalesco de então, Pirata da perna de pau, sacudia a rádio Nacional. Coincidentemente, a cada volta no salão mamãe dava com um senhor, comportadamente aboletado em sua mesa, no trecho exato em que a marcha dizia: Olha, o pirata da perna de pau! Do olho de vidro... E ela, dançando e cantando, apontava para o dito senhor. Tia Olívia (minha madrinha) chama-lhe à mesa e lhe diz ao ouvido, em meio ao barulho infernal:
- Lourdes, o homem tem olho de vidro! Mamãe não mais circulou em volta do pirata...