23.8.07

40 ANOS SEM CHE, 10 ANOS SEM DARCY

40 anos sem Che


Che, militante da justiça


Frei Betto

Neste ano, comemoram-se 40 anos da morte de Ernesto Che Guevara nas selvas da Bolívia. Nascido em Rosário, Argentina, a 14 de junho de 1928, foi capturado e assassinado, a 8 de outubro de 1967, aos 39 anos de idade.
Filho de um renomado arquiteto, Guevara, ainda adolescente, percorreu 4.700 km de estradas argentinas em sua bicicleta e, mais tarde, viajou por quase toda a América Latina em companhia de seu amigo Alberto Granados, quando conheceu a miséria do continente. Esta fase está magnificamente documentada por Walter Salles no filme "Diários de motocicleta" (2004).
Formado em medicina, em 1953 Che foi para a Venezuela, onde se dedicou à pesquisa da cura da hanseníase. Em dezembro do mesmo ano transferiu-se para a Guatemala. Ali, o governo progressista de Jacobo Arbenz implantava a reforma agrária, à qual ele se integrou. No ano seguinte, um golpe militar patrocinado pelos EUA derrubou o presidente Arbenz e obrigou Guevara a se mudar para o México, onde chegou a 21 de setembro de 1954.
Na Cidade do México, conheceu a peruana Hilda Gadea Acosta, com quem se casou e teve uma filha, Hildita. Para sobreviver no México, Che trabalhou de fotógrafo ambulante e vendedor de livros. Através de concurso, ingressou num hospital como médico de doenças alérgicas, onde conheceu o paciente Raúl Castro.
Em meados de 1955, Raúl convidou-o ao apartamento de Maria Antonia Figueroa, onde os exilados cubanos se reuniam, e apresentou-o a seu irmão, Fidel. Ali se tramava a expedição do iate "Granma", que levaria à Cuba os guerrilheiros decididos a libertá-la da ditadura de Batista. Após desembarcar em Cuba em dezembro de 1956, Che ingressou como médico na guerrilha de Sierra Maestra, da qual se tornou Comandante. Vitoriosa a Revolução, a 1º de janeiro de 1959, exerceu importantes funções no Governo Revolucionário. Em Havana, casou-se com Aleida March, com quem teve quatro filhos.
Em 1961, foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, em Brasília, pelo presidente Jânio Quadros. Cinco anos depois abandonou Cuba para lutar no Congo Belga. Ali permaneceu até março de 1966. Após passar por Praga, Frankfurt, São Paulo e Mato Grosso do Sul, disfarçado de executivo da OEA e sob o nome de Adolfo Mena, ingressou na Bolívia em novembro de 1966, disposto a acender o estopim que libertaria toda a América do Sul.
O que marca a vida de Che é a utopia revolucionária. Em 1952, aos 24 anos, ao percorrer o Chile, a 12 de março chegou ao povoado de Baquedano, rumo às minas de cobre de Chuquicamata. Convidado a hospedar-se em casa de um casal de mineiros, impressionou-se com o que viu e ouviu: à luz de velas, o jovem trabalhador narrou-lhe os três meses que passara na prisão junto com sua mulher; a solidariedade dos vizinhos que acolheram os filhos; os companheiros misteriosamente desaparecidos e dos quais se dizia terem sido atirados ao mar... À hora de deitar-se, Guevara percebeu que o casal não tinha manta para cobrir-se do frio. Cedeu a que trazia consigo e, mais tarde, recordaria que, naquela noite, malgrado seu corpo enregelado, sentiu-se irmão de todos os oprimidos do mundo.
Em junho, chegou ao Peru, em companhia de seu amigo Alberto Granado. No dia 7, foram ao leprosário de San Pablo, junto aos rios Yaveri e Ucayali. Ficaram desolados ao ver que ali viviam famílias de enfermos sem roupa, alimentos e remédios. Trataram delas com os poucos recursos de que dispunham e, à hora de partir, foram surpreendidos com um show organizado pelos próprios hansenianos, que cantaram ao som da música de violões, flautas, saxofone e bandoleón.
Quando Fidel e Che se conheceram na Cidade do México, o líder do Movimento 26 de Julho iniciava seu exílio após sair da prisão em Cuba, em decorrência do fracasso do assalto ao Quartel Moncada, em Santiago de Cuba. A conversa entre os dois mudaria para sempre o rumo da vida do jovem argentino, pois os guerrilheiros cubanos andavam à procura de um médico que pudesse acompanhá-los à Sierra Maestra.
Em plena onda neoliberal que assola o planeta, a figura de Guevara emerge como alento de esperança e exemplo a todos que, como ele, acreditam que - como escreveu à sua filha Hilda, ao despedir-se de Cuba- enquanto houver uma só pessoa faminta, oprimida, excluída, é preciso seguir lutando.
Se a atual conjuntura exige outras formas de luta diferentes das adotadas por Che, é inegável que a causa de sua opção revolucionária -a clamorosa miséria da população da América Latina - infelizmente segue aumentado. Daí o imperativo ético que se impõe àqueles que priorizam em sua vida uma radical entrega à construção de um futuro onde todos possam partilhar, como irmãos, "os bens da Terra e os frutos do trabalho humano", como rezam os cristãos na eucaristia.
Com muita razão disse-me Fidel em maio de 1985, "se Che fosse católico e pertencesse à Igreja, teria todas as virtudes para que se fizesse dele um santo". Suas virtudes e a força moral de seu exemplo justificam a veneração que em todo o mundo se nutre por ele.
Só um homem de muita grandeza moral seria capaz de escrever isto: "Deixe-me dizê-lo, sob o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível imaginar um autêntico revolucionário sem esta qualidade. (...) É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade existente se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo e mobilizem" (Che, "El Socialismo y el hombre en Cuba", Editora Politica, La Habana, 1988).



10 ANOS SEM DARCY





Betinho e Darcy
Este blog reproduz uma carta do Betinho ao Darcy.
Rio, 27 de agosto de 1996

"Você é de Montes Claros, eu sou de Bocaiúva. Sou mais importante que você por razão de nascimento, mas você não tem culpa. Você tem câncer e eu, além de ser hemofílico, tenho AIDS. Ganhei mais uma vez. Você não pode comigo. Mas isso é entre nós. Vivemos mais ou menos a mesma época, você tem alguns anos mais que eu, você viveu mais perto do poder e eu mais perto da planície, da sociedade. Não é virtude, é destino. Você conheceu a morte mais tarde, eu já nasci com ela. Vantagem minha? Não sei. Você foi mais livre que eu, ousou mais em muitos campos. Em outros você foi poder, com Jango e tantos outros. Não importa. Somos grandes amigos e irmãos, apesar de não nos vermos como se deveria. E vivemos no mesmo Rio. Quando cheguei ao Chile escapando da ditadura no Brasil você foi logo me dizendo que eu deveria assessorar Allende. Porque você iria para o Peru assessorar o Alvarado. Essa mania que nós, brasileiros, temos: pensar que somos deuses. E no entanto tudo isso se deu. Fui trabalhar com Joan Garcez, assessor pessoal de Allende. Você foi embora para descobrir lá longe o próprio câncer e montado nele voltar para o Brasil. Da morte para vida. Enfim, nossa história é uma permanente disputa pelo absurdo, até que eu te venci: criei a Grande Bocaiúva e incluí nela Montes Claros, Belo Horizonte, Rio e uma parte de Paris, sem falar em Nova York. Mas agora estou triste com esse debate pelos jornais que você faz com gente do tempo da ditadura. Esse debate não merece ser feito por você. Que importa o diploma? Os títulos, os currículos? Essa gente tem o passado da ditadura, você tem a luta pela democracia! Eles são doutores da ditatura, você é um eterno aluno da democracia, às vezes perigosamente perto do poder. Mas não há nenhum dúvida sobre o seu lado: o do oprimido, do segregado, do danado, o da maioria. E isso é que é o saber. Pelo amor de Deus, não perca seu tempo com esse tipo de debate! Com esse tipo de gente! A vida é mais importante. Discutir títulos é discutir "bestage", como se diz em Minas. Discutir diplomas é discutir a ordem. Pare com isso. Continue a discutir a vida, a democracia, a rebeldia, a liberdade. Ou não serás digno do Grande Bocaiúva, do qual Montes Claros é apenas uma parte.

Do seu irmão, doa a quem doer,

Betinho

Fonte: Confissões, RIBEIRO, Darcy, p 263/64

Para Editoria de POLITICA, Estado de Minas – ESPECIAL

Darcy Ribeiro e o valor da educação
LUIZ RIBEIRO

“Sem um povo educado não há como fazer o país crescer”. Esta foi uma das frases repetidas por Darcy Ribeiro, um dos mais importantes mineiros do último século, que morreu em 17 de fevereiro de 1997, vítima de câncer. Considerado como o mais efusivo antropólogo que o Brasil já conheceu, Darcy foi ministro, vice-governador, senador, sociólogo, etnólogo, escritor e acadêmico, tendo ingressado na Academia Brasileira de Letras (ABL). Mas, a educação era sua maior paixão. Costumava dizer que tinha uma “pequena utopia” de ver o desenvolvimento justo para todos os cidadãos, o que acreditava somente ser possível através da escola.
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, em 26 de outubro de 1922. O que se percebe é que aquilo que ele pregou em torno da educação, apontado como único elemento de transformação social, não está sendo aplicado, na prática. A conclusão é dos intelectuais que conviverem com ele, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, em 1996, sancionou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), cujo relator foi o então senador Darcy Ribeiro e que recebeu o seu nome. “Os ideais de Darcy para a educação brasileira estão sendo apenas parcialmente cumpridos”, avalia o ex-presidente, que, no entanto, assinala: “de qualquer modo, seu exemplo e seu trabalho valeram: a educação de hoje é mais extensa e, em certos setores, melhor do que no passado”.
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), outro signatário de Darcy e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), a pregação do pensador mineiro ainda “está longe de ser cumprida. Ficou no papel”. Segundo o senador, “essa situação se verifica porque a opinião pública ainda não compreendeu a importância da educação no processo de desenvolvimento do país e não cobra um compromisso dos governantes com o setor”. Ele entende que é preciso “federalizar a educação básica”. “É preciso federalizar a educação básica no Brasil. Enquanto a educação básica estiver sob responsabilidade dos municípios, não será conseguida nenhuma solução porque os municípios são muito desiguais. Além disso, a educação fica a mercê dos prefeitos. E os prefeitos sempre pensam diferentes uns dos outros”, afirma Buarque. Ele salienta que os investimentos e a implementação de políticas sérias no setor depende da própria mobilização pública junto aos governantes.
Cristovam Buarque destaca que Darcy Ribeiro teve um grande diferencial na questão do desenvolvimento brasileiro. “Ele representou a visão rara no Brasil de que educação é o vetor do progresso. No país, sempre foi falado que somente a economia permite o crescimento e o Darcy mostrou que só se consegue desenvolvimento com a educação de um povo. Ele foi um educador que também formulou propostas e lutou pelas escolas”, afirma.


CONSTRUTOR - O ex-presidente da Fundação Roquete Pinto, Paulo Ribeiro, sobrinho de Darcy Ribeiro e que também conviveu com ele durante vários anos, no Rio de Janeiro, chama a atenção para uma das qualidades do ex-senador e antropólogo: de não ficar apenas no discurso e tentar fazer as coisas. “Darcy Ribeiro tinha algo incomparável, que é a qualidade de compreender a realidade, propor soluções e executá-las”, afirma Paulo, atual presidente da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar). Segundo ele, depois de Juscelino Kubstcheck e Israel Pinheiro, Darcy “foi o mineiro que mais construiu obras no Brasil”.
Além dos Cieps (Centros Integrados de Atenção Pública), entre outros empreendimentos que surgiram por iniciativa do educador mineiro ele cita o Museu do Índio, o sambódromo a a Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro; o Memorial da América Latina, em São Paulo; a Universidade de Brasília; e a Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos (RJ). Juntamente com os irmãos Villas-Boas, Darcy Ribeiro também foi um dos responsáveis pela criação do Parque Nacional do Xingu.
“Durante toda sua vida, Darcy trabalhou para a valorização da auto-estima da população brasileira. Ele dizia que a única coisa que o capitalismo não toma das pessoas é o conhecimento”, lembra Paulo Ribeiro.
O trabalho de Darcy é enaltecido também pelo ex-governador do Rio de Janeiro Nilo Batista,que também o conheceu de perto. “Darcy Ribeiro era como um vulcão, um gerador constante de energia e projetos. Ele era temperamental. Nunca ficou parado. A primeira coisa desse temperamento era o amor pela vida a segunda foi o compromisso com o povo brasileiro”, declara Nilo Batista.
Ele salienta que o antropólogo teve uma atuação importante no processo político do país nos anos 30. “Naquele tempo, as coisas ainda estavam confusas, com as blumas ideológicas em que se faziam com os partidos políticos. Aí, veio o movimento trabalhista. O Darcy foi um grande personagem da saga trabalhista”, recorda o ex-governador do Rio.

Matéria 2 – Para FHC, “convergência entre o intelectual e o homem de ação”

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso considera que Darcy Ribeiro foi “um excepcional caso de convergência entre o intelectual e o homem de ação”. O ex-presidente ressalta que, como intelectual, hoje, a contribuição de Darcy, hoje, é ressaltada mais na área de educação, mas lembra do seu trabalho na antropologia.
“Não nos devemos esquecer de que ele foi um inovador antropólogo de campo e que, nesta área, desde bem jovem, mostrava também o pulso do homem de ação: o Museu do Índio do Rio de Janeiro foi marcado pela presença de Darcy Ribeiro. Seus trabalhos de campo, inclusive seu diário de pesquisas, continuam a servir de bibliografia básica para o conhecimento da cultura de alguns de nossos grupos indígenas, notadamente os ‘caduveu e os ´’urubu’, disse Fernando Henrique Cardoso, em entrevista do Estado de Minas.Continuando, relata FHC, “Mais tarde, quando (Darcy) se voltou para as questões educacionais, da mesma forma, a renovação provocada por ele, sob a batuta de Anísio Teixeira, com quem colaborou no INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), se espraiou pelo Brasil afora, até dar seu mais radioso fruto com a criação da Universidade de Brasília. Inovou na organização universitária e teve a audácia de convocar inteligências jovens para desenvolver a Universidade, estancada mais tarde pelo regime militar, mas que soube renascer com a democracia. Acrescente-se a isso tudo que Darcy era um escritor genuíno. A carta que escreveu ao Presidente Juscelino pedindo que se criasse a UnB, feita nos moldes da carta de Pero Vaz de Caminha, é uma jóia de talento e gosto”.


Em 20 de dezembro de 1996, na presidência da República, Fernando Henrique sancionou a Lei nº 9.394, que foi denominada Lei Darcy Ribeiro, prevendo uma novas diretrizes para a educação brasileira. O ex-presidente reconhece: “é preciso dizer que se não fosse o empenho do então senador Darcy Ribeiro não contaríamos hoje com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), proposta pelo ministro Paulo Renato”. Ele cita ainda outros feitos importantes de Darcy: “quantos brasileiros terão legado à posteridade um museu, uma universidade e uma lei fundamental para a educação? E tudo isso feito com vigor, com graça e com competência. Sem mencionar sua obra científica e a literária”.O ex-presidente lamenta que os ideais de Darcy Ribeiro para a educação brasileira “estão sendo apenas parcialmente” cumpridos. “Ele sempre viu na educação fundamental o alvo principal. Tenho a impressão que, hoje, novamente as atenções estão mais voltadas para o ensino superior do que para a escola básica. Seu sonho como educador era dar acesso à escola a todas as crianças, objetivo que estamos conseguindo. Porém, Darcy pensava em uma permanência na escola muito maior do que os magros quatro anos que, em média, oferecemos às nossas crianças”.
FHC ainda observa: “Darcy tinha um espírito fortemente anti-corporativo. Para ele, sobretudo na educação, o mérito deveria ser o critério fundamental para ascender na carreira e para a remuneração. Não é o que vemos hoje em dia”. O ex-presidente conclui: “de qualquer modo, seu exemplo e seu trabalho valeram: a educação de hoje é mais extensa e, em certos setores, melhor do que no passado”.

Matéria 3 – Fundação guarda acervo –

Pouco antes de morrer, em fevereiro de 1997, Darcy Ribeiro assinou um testamento, deixando quase todo o seu patrimônio para a Fundação que leva o seu nome, sediada no Rio de Janeiro. A princípio, a entidade funcionou no apartamento deixado por ele, na praia de Copacabana.
Hoje, a Fundação Darcy Ribeiro (Fundar) funciona em sede ampla, um casarão no bairro Santa Teresa, próximo ao centro do Rio. Lá está reunido todo o seu acervo como senador, escritor e antropólogo.
O imóvel foi adquirido por cerca de R$ 240 mil. Na compra, foi usada parte do patrimônio deixado por Darcy. Entre os bens mais valiosos, além do próprio apartamento, ele deixou os livros, arquivos, obras de arte e o equivalente a R$ 470 mil depositados na Suiça, fruto da venda de seus livros na Europa e um fundo de garantia que recebeu da Organização dos Estados Americanos (OEA). Atualmente, o patrimônio da fundação é constituído pelos direitos autorais das obras de seu Instituidor, objetos de arte, a biblioteca (aproximadamente 30.000

volumes), fitas de vídeo cassete (aproximadamente 300), os arquivos (aproximadamente 1.000 com documentos, correspondência, recortes de jornais, textos e outras relíquias), inclusive os originais das suas obras literárias e científicas. Ao todo são 61 títulos. A entidade cuida também do relançamento de várias obras, cujas edições já estão esgotadas.


Matéria 4 – Edição de obra inédita

Passada mais de uma década da morte de Darcy Ribeiro, está sendo editada uma obra inédita daquele que foi considerado um mais importantes educadores brasileiros. Trata-se da série “Os Cronistas Franceses”, em quatro volumes, organizada pela Fundação Darcy Ribeiro e que será lançada por uma editora do Rio de Janeiro, que também será responsável pela reedição do livro “Aos Trancos e Barrancos: como o Brasil deu no que deu”, outra obra do escritor.
De acordo com a Fundar, os quatro volumes de "Os Cronistas Franceses" são textos sobre o Brasil, produzidos nos séculos XVI e XVII e trabalhados por Darcy Ribeiro, nos anos oitenta. O conjunto da obra traz as crônicas de Yves D’Evreux, Jean de Lery, André Thevet e cartas de Villegagnon para o reino da França.
A Fundação Darcy Ribeiro assumiu a continuidade da revisão dos textos, a pesquisa e reprodução das imagens, sob a coordenação da Conselheira Ana Arruda Callado e Etiene Vernet. Os volumes estão em fase final de organização gráfica e editoração. A programação gráfica é de Victor Bourton. O projeto tem o apoio da Biblioteca Nacional e do Ministério da Cultura e da Marinha, que permitiu a reprodução de fotos do seu acervo.
Os cronistas franceses relatam fatos curiosos da cultura dos povos, flora e fauna das terras americanas. Conforme os organizadores, a série representa “uma obra de referência de grande interesse para o conhecimento das primeiras impressões de europeus em terras brasileiras”.
A presidente da Fundar, Tatiana Memória, revelou que Darcy Ribeiro deixou os originais de um outro romance, escrito quando ele tinha pouco mais de 20 anos e era estudante universitário, chamado “Lapa Grande”. Na obra, seriam reveladas aventuras da adolescência de Darcy. Só que, garante Tatiana, o verdadeiro teor do livro jamais chegará ao conhecimento público. “Existe uma recomendação do próprio Darcy para que a obra nunca seja editada, pois, foi mais uma aventura dele, que contém incorreções. Por isso, temos que respeitá-lo”, disse a dirigente presidente da fundação.



Para Infografia:
Afirmações de Darcy Ribeiro:

1“Fracassei em tudo o que tentei na vida.Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui.

Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”

2
“Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada”
3
“Sem um povo educado não há como fazer o país crescer”
4
“Não existe nenhuma outra política que possa gerar o desenvolvimento que não seja a política da educação”.
5
“O único clamor da vida é por mais vida bem vivida. Essa é, aqui e agora, a nossa parte. Depois seremos matéria cósmica. Apagados minerais. Para sempre mortos”

Agradecemos ao amigo e jornalista Luiz Ribeiro pela preciosidade do texto acima.